A Ariel sempre foi preta
Racismo, racismo, racismo...
Essa pauta já cansou para quem é branco e está só começando para quem é negro. E não adianta reclamar que é mimimi...
Quase todas nós, da geração dos anos 80, quisemos ser paquitas um dia na vida, então somos amigas da água oxigenada e também da estrutura pálida que nos acompanha desde os primeiros anos de desenhos da Disney.
A atriz Halle Bailey sofreu uma série de ataques racistas nas redes sociais após a divulgação do trailer de “A Pequena Sereia”. Por ser negra, Halle, que interpretará Ariel no live-action da Disney, sofreu literalmente na pele a discriminação do público que está acostumado a entender a Ariel como branca. Alguns comentários indagavam a escolha de uma mulher que destoava fisicamente da característica da personagem, apresentada há gerações, tais como: “A Ariel é branca. Aceitem isso”, escreveu uma usuária do Instagram. “Decepcionada que a Ariel não parece a Ariel”, disse outra. “Não sou racista, mas qual o motivo disso? Você pode criar uma nova princesa e ela ser preta”, disse outro.
É certo afirmar que a Ariel que conhecemos é branca, com a pele alva, olhos azuis e cabelo bem vermelho; da mesma forma, é certo afirmar que o mundo está mudando e hoje somos apresentadas a uma Ariel negra, com olhos castanhos e com cabelos avermelhados.
E nesse emaranhado de razões sobre o certo e o errado no padrão da personagem, apresento a melhor razão de todas para não mais discutirmos sobre sua cor: toda e qualquer personagem deve ser vista como um instrumento para o rol de emoções a que ela pretende induzir. Sejam essas emoções boas ou ruins, o fato é que todas as personagens existentes nos conectam com algo mais além de nós mesmas, com a nossa essência mais plena, aquela em que suscitamos a magia do supremo, escondida nas nossas visões de mundo.
Então, se a Ariel é negra ou é branca, fica a critério do nosso imaginário entendê-la como tal, da mesma forma que suas opções sexuais e de gênero. Precisamos compreender o mundo com um terceiro olho, aquele em que a visão é plena e sem restrições culturais, sociais e políticas que nos limitam e diminuem.
Não é preto no branco nem azul ou rosa. Também não precisamos ser eternamente magras, brancas, héteros e jovens. Não precisamos ser nada que nos tenha sido ensinado no discurso antiquado de uma geração que em breve não estará mais aqui.
Descobri que a minha Ariel sempre foi negra, apenas não conseguia enxergá-la com perfeição... provavelmente o mar estava turbulento na época...
Fui! (aguardar o lançamento do novo filme da Disney em uma fila mais justa e igualitária...)
Cris Coelho para a coluna Vária Vozes
Encontre-a no instagram: @crisreiscoelho