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A IA está aí. E agora?



No início de maio, o Brasil, mais especificamente a cidade do Rio de Janeiro, sediou a primeira edição do Web Summit na América Latina, evento mundial realizado tradicionalmente na Europa. Grandes e pequenas empresas, startups, profissionais e estudantes compartilharam ideias numa grande arena de tecnologia e inovação.


A grande protagonista desta edição foi a Inteligência Artificial (IA), e não sou eu quem está afirmando. Todas as mídias especializadas foram uníssonas ao apontar a IA como o principal tema do evento, que foi abordado em diferentes perspectivas, envolvendo benefícios, riscos, oportunidades, ausência de regulamentação, entre outros. O ChatGPT, obviamente, foi assunto nas falas e discussões, tanto dos especialistas quanto dos curiosos (como eu).


Eu tive o privilégio de participar de todos os dias do evento, representando a Vibra Energia, uma das patrocinadoras do evento, que, diga-se de passagem, impactou com um estande que virou o point da inovação no evento (eu sei, não tem isenção alguma nesta minha afirmação), mas juro que este texto não é publi e que vou compartilhar minhas reflexões aqui.


A inteligência generativa é realmente surpreendente, e você já deve saber que ela é capaz de escrever textos completos, de criar imagens que parecem obras de arte, de desenvolver vídeos incríveis (veja a campanha “Obra de Arte” da Coca-Cola), além de acelerar processos, só para citar algumas possibilidades que estão sendo exploradas. A IA está progredindo rapidamente e desempenhando um papel cada vez mais importante em diversos setores da sociedade, até mesmo na medicina.


Diante de tantas oportunidades, imagino que você também já pode ter parado para refletir sobre o impacto da inteligência artificial na sua carreira. É natural a gente se questionar: “e agora?” Tem gente que enxerga a IA como uma adversária, assim como outros a enxergam como uma aliada. E você, também escolheu um lado?


Eu não tenho dúvida que lutar contra os avanços tecnológicos é um esforço inócuo que só prejudica a nós mesmos. O melhor caminho é sempre surfar na onda e nadar no sentido da correnteza, para não “levar um caixote” e parar na areia da praia.


Eu sou da geração que ia para a biblioteca pública e fazia pesquisas escolares usando as enciclopédias Barsa e vi a internet chegar e acelerar as minhas pesquisas de conhecimento (depois da meia-noite, em que o custo da ligação era menor – eram os velhos tempos da internet discada, que nem todos entenderão). Se eu, que vivi essa grande mudança, não consigo fechar os olhos para as oportunidades que inteligência generativa pode trazer para otimizar os processos no trabalho e até as minhas necessidades pessoais, imagina quem já nasceu vendo tudo mudando com a tecnologia acelerando e indo parar na palma da mão! Tudo que nos proporciona economia de tempo retorna para nós, seja com o alcance mais rápido das entregas profissionais, seja na possibilidade de direcionar mais tempo a atividades que dependem exclusivamente de nós (pessoas). Por isso, não podemos nos fechar para mais esta onda chegando.


Sim, a IA irá transformar o mercado de trabalho. Algumas tarefas rotineiras e repetitivas continuarão sendo automatizadas, mas isto cria oportunidades para que os profissionais se concentrem em atividades mais complexas e criativas, que exigem habilidades humanas únicas, como pensamento crítico, resolução de problemas e empatia.


Também não podemos esquecer que com a IA vem o aumento da demanda por profissionais especializados nessa área de desenvolvimento tecnológico, o que também impulsiona a necessidade de professores para formação na área em cursos e programas de treinamento e capacitação em empresas e instituições de pesquisa. Sem contar as questões relacionadas à regulamentação e à ética no uso da IA, como privacidade, segurança de dados, preconceito algorítmico e responsabilidade digital. Novas oportunidades surgem com essas discussões.


Eu sei que nos parece que a IA tende a encolher os postos de trabalho mais operacionais e que as oportunidades que surgem estão concentradas em níveis mais especializados. Mas como eu prefiro olhar sempre o copo meio cheio, enfatizo que a introdução da IA não é sobre substituir postos de trabalho, mas sobre trabalhar em conjunto para alcançar resultados melhores e mais eficientes. A IA nos ajuda a escalar e oferecer mais soluções quando ampliar nosso alcance no modelo tradicional é inviável economicamente. E quando as organizações crescem, novas oportunidades aparecem.


Quem é empreendedor e está iniciando um negócio, por exemplo, pode ainda não ter condição de contratar uma equipe de atendimento e vendas robusta, mas tem a possibilidade de se colocar numa vitrine virtual e ter comunicação simultânea com os clientes potenciais e gerar mensagens automáticas no whatsapp para facilitar a triagem do seu atendimento. Isto nada mais é que a automação ampliando o alcance e impulsionando pequenos negócios.


Não estou negando que a IA possa ter um impacto significativo em funções específicas, como no passado o avanço da tecnologia também provocou em outras profissões. Com a chegada dos carros, no início do século XX, por exemplo, a indústria de carruagens e a atividade dos guias de carruagens foram impactadas. Os carros motorizados ofereciam uma forma mais rápida, eficiente e conveniente de transporte. No entanto, muitos guias de carruagens se tornaram motoristas, outros encontraram trabalho em garagens de automóveis, onde puderam aplicar suas habilidades de cuidar e manter os veículos, assim como alguns puderam migrar para o setor de turismo, aproveitando seu conhecimento sobre a história e atrações locais para se tornarem guias turísticos. Embora a forma de transporte tenha mudado, a experiência em cuidar dos veículos, transportar pessoas, orientar os viajantes e fornecer informações valiosas se manteve relevante.


O mesmo aconteceu com as telefonistas, com a introdução dos sistemas de comunicação automatizados. No entanto, as telefonistas eram treinadas para fornecer um atendimento personalizado aos chamadores, tratando-os de forma cortês e profissional, e tinham conhecimento sobre a organização. Assim, muitas delas foram redirecionadas para outras funções dentro das próprias empresas, como atendimento ao cliente, recepção e suporte administrativo.


Em resumo, tudo se concentra na capacidade de aplicar seus conhecimentos e habilidades, não necessariamente na forma de execução, bem como no profissionalismo demonstrado, independentemente da sua função. Estas são as condições básicas para estar preparado para surfar na próxima onda, e esta capacidade de adaptação e flexibilidade, essencialmente humanas, nos diferencia da IA.


A onda está vindo. Quem vem?


Érica Saião para a coluna Mulher & Carreira

Encontre-a no instagram: @erica.saiao


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