Há algumas semanas (nem tantas assim) escrevi uma crônica sobre a futilidade gigantesca do novo Big Brother, programa de maior sucesso na TV brasileira, até então, na minha opinião sobrepujado e over-dimensionado em sua audiência. Mas, como toda boa geminiana que sou, cedi a curiosidade de acompanhar os olhares famintos dos meus filhos pré-adolescentes e mudei de ideia sobre o convite feito pela Globo, que nos disponibiliza todas as noites uma incrível incursão ao universo dos seres humanos mais reais e espontâneos possíveis!
Sim, eles são os perfeitos exemplares da raça humana, liderados pela “semideusa” com nome de Lumena, que insiste em despertar nos menos privilegiados em conhecimentos de psicologia e comportamento, o verdadeiro caminho para alcançarem o “Nirvana Social”. Ela, mais do que todas as outras tristes peças desse tabuleiro, representa o “lugar de fala” da maior parte da população mundial: aquele em que os ecos de discursos antigos se propagam sem pudor pelas falas contundentes e desesperadas de uma população ávida por levantar bandeiras e dividir territórios.
Lumena se apodera de uma agenda que a representa em vários aspectos da sua etnia, mas carece perceber que a sorte de ter vindo com a cor escura em seu corpo feminino e nordestino não lhe entrega a benevolência de ditar normas, de agredir seus próximos quando os mesmos não compactuam de suas ideias e de exigir privilégios que deveriam ser conquistados e jamais doados.
Esse Big Brother é realmente um programa sensacional, que mostra o pior lado do ser humano, em todas as salas em que ele tenta sobreviver à companhia de um semelhante; e dizer que a futilidade é do programa foi um erro meu. A futilidade é de toda uma sociedade, que luta para manter-se ativa com discursos de ódio propagados para todos os lados, tanto pelos que habitam os palácios quanto pelos que habitam os presídios.
Mas claro que a Lumena não é a culpada pela sua atitude de pessoa intolerante, ela é apenas uma vítima de todo um sistema opressor que a coloca em uma espiral de ódio por todos os lados em que tenta mover-se. Mal sabe a Lumena que o sistema é composto por ela, entoado pelo hino que ela mesma compõe, em todas as vezes que abre sua boca para propagar a separação de cor, de classes, de gêneros, de locais de nascença e de seres humanos diferentes de tudo que comunga com sua alma machucada e nitidamente combativa…
By Cris Coelho