Passando por outubro, mês de Nossa Senhora Aparecida, mês das crianças e finalizando com o dia das bruxas, meus pensamentos voaram para minha infância. Parece que tudo virava diversão. Ah, como seria bom se pudéssemos retroceder no tempo para voltar a ser criança. Eu ia adorar! Você às vezes também tem este desejo?
Acho que Nossa Senhora tem muito a ver com a minha infância. Lembro até hoje de minha mãe cantando pra mim “Mãezinha do céu eu não sei rezar eu só sei dizer quero te amar...”. Essa música sempre me acalmou, ajudava a aliviar minhas dores de ouvidos e inclusive adormecia ouvindo esta canção. Parecia que esta oração a Nossa Senhora era mágica, hoje entendo como fé.
Lembro-me das brincadeiras com as minhas amigas do prédio, Laura e Júlia, tudo era divertido e mágico. No dia das bruxas nós nos vestíamos de bruxinhas para passar nos apartamentos do nosso prédio para dizer “doces ou travessuras” e voltávamos para casa com os bolsos cheios de balas e pirulitos.
Ah, e quando ganhei o avião da Barbie, quase não acreditei. Eu havia pedido para o Papai Noel o avião da Barbie, eu acho que era o brinquedo mais cobiçado pelas crianças naquela época. Meus pais conversaram comigo e disseram que era um brinquedo muito caro para o Papai Noel comprar, mas que certamente ele traria outros brinquedos bem bacanas para mim. Mas o meu primo Ricardo, que morou uns tempos conosco e com quem eu implicava um pouquinho, comprou o tal avião e meu trouxe numa tarde.
Eu me lembro de cada detalhe daquela tarde, lembro que quando o Ric me entregou o avião o meu irmão estava na creche e eu em casa, pois eu estudava no período da manhã. Lá na sacada do meu apartamento eu abri o presente e quase não acreditei. Ganhar aquele avião com todos os acessórios foi um momento muito mágico. Abri tudinho. Também lembro que quando abri a parte dos copinhos e dos gelinhos, os gelinhos acabaram se espalhando pela sacada e mais tarde o meu irmão pegou os gelinhos para ele. E minha mãe falou: - Fê, pega os gelinhos amanhã, quando ele estiver na creche, hoje deixa com ele. E foi o que fiz.
O bom da infância é poder acreditar na magia do Papai Noel, no coelhinho da Páscoa, na fada do dente, nos contos de fadas, isso torna a vida mais leve e alegre. Às vezes penso que a vida de gente grande é meio sem graça!
Papai Noel pra mim sempre foi a visita mais esperada do ano! Tenho ótimas lembranças dos Natais em família, reunir a família, esperar o bom velhinho bater na porta, parecia que o meu coração ia pular pela boca, e depois ajudá-lo a sentar na cadeira com aquela enorme barriga. E depois tinha a ansiedade de esperar ele me chamar e perguntar se eu havia me comportado bem durante o ano, para só depois ganhar os presentes. E ainda a ansiedade de saber se ele havia trazido os presentes que eu tinha pedido na famosa “cartinha do Papai Noel”. Ah, tudo muito mágico, muito esperado e guardado com muito carinho dentro das minhas boas lembranças.
Não posso me esquecer de mencionar a maravilhosa comida de Natal, tudo muito lindo, muito decorado e acho que gostoso. Digo, acho bem gostoso porque quase nem comia só queria abrir, analisar e curtir os presentes que havia ganhado.
Ocasião parecida era a da Páscoa, a diferença é que no Natal eu queria que a noite logo chegasse e na Páscoa eu queria que a noite terminasse logo para procurar onde o coelhinho havia escondido a cestinha com os ovos.
Quando achava a cesta que estava escondida na minha casa, corria para casa da minha avó e depois para a casa da minha dinda para encontrar as cestinhas que o coelhinho tinha deixado na casa delas. Às vezes o coelhinho deixava pistas, ovos perdidos pelo caminho e até sinais das patinhas dele, mas outras vezes era bem difícil mesmo. E os adultos ao invés de ajudar a procurar ficavam só filmando, fotografando e rindo! E depois ainda diziam que não podia comer tudo de uma vez, tinha que separar para comer um pouquinho cada dia para não fazer mal. Isto não era muito bom, pois tinha vontade de experimentar cada um dos chocolates e ovinhos que estavam nas cestas. Mas o bom é que o lanche da escola para os próximos dias seria uma delícia! Tudo era uma diversão! Agora curto os meus primos pequenos passando por todo este ritual, isto me traz um pouco de nostalgia, mas também me divirto com a alegria deles.
Outro momento marcante é a chegada do aniversário. Os aniversários de quando criança eram também muito aguardados, o dia de me sentir a rainha do mundo onde todas as atenções eram para mim. Ainda gosto dos meus aniversários, mas agora com um olhar de gratidão e de celebração.
"Mesmo adulta quero poder revisitar a criança que existe em mim para fortalecer o meu otimismo, minha alegria, meu entusiasmo pela vida, minha fé e não perder a minha essência. "
E da fada do dente, o que contar dela? Na infância todos os momentos parecem mágicos, até perder um dente tem seu encantamento. Achava o máximo deixar o meu dente que havia caído em baixo do travesseiro e trocar por uma moeda com a fada do dente. No outro dia quando via aquela moeda embaixo do meu travesseiro eu corria para mostrar a moedinha para os meus pais. Nem imaginava que eles mesmos tinham deixado para mim! Só a inocência da criança para acreditar em algo assim, não é mesmo? Teve um dos dentes que perdi comendo uma maçã na casa da minha dinda e o dente ficou cravado na maçã. Depois ficou aquela famosa janelinha que dificultava até para comer milho na espiga. Cada dente que caia tinha sua história.
O dia das crianças também era especial, dia de ganhar um brinquedo e de passar o dia se divertindo e brincando. Normalmente ia para um parque de diversão para andar nos brinquedos que quisesse e quantas vezes eu quisesse. Isso só nos dias das crianças mesmo para acontecer.
Agora que cresci tudo parece tão diferente. Até os lugares que pareciam ser enormes, alguns até pareciam não ter fim, agora já parecem ser tão pequenos. Mesmo assim, com um pouco menos de encantamento, crescer vale a pena. Podemos inclusive tornar alguns sonhos de contos de fadas em realidade. Achar o nosso príncipe encantado, ter o nosso castelo, quero dizer a nossa própria casa e nossa companhia, enfim... Mas o melhor mesmo é fazermos nossas próprias escolhas, tomar nossas próprias decisões, administrar o nosso dia a dia, termos o nosso dinheiro e participar ativamente na construção de nossas vidas. Ah, e quem sabe se divertir com a inocência e com a curtição das crianças. E acreditar que tudo vai ficar bem, assim como as crianças tem otimismo para tudo.
Crescer tem lá seus privilégios, por mais que a vida adulta traga momentos difíceis e exija muita responsabilidade, é incrível a sensação de crescer e, aos poucos, se tornar independente.
Mas mesmo adulta quero poder revisitar a criança que existe em mim para fortalecer o meu otimismo, minha alegria, meu entusiasmo pela vida, minha fé e não perder a minha essência.
Termino estas minhas lembranças e reflexões com uma frase que li: “A infância é uma fase tão bela que parte de nós residirá sempre nela”.
Fernanda Machado para a coluna Páginas do meu diário
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