Linn da Quebrada, ou apenas Lina, mais uma vez teve seus pronomes trocados dentro da casa mais vigiada do Brasil. O programa que já ultrapassa um mês de exibição, segue sendo palco de transfobia com a participante que tem, literalmente, o pronome ELA tatuado na testa.
A agressão da vez foi cometida por Lucas, que inclusive a levou para seu VIP em sua primeira liderança. Anteriormente, Lina teve seus pronomes errados por Eslovênia (que mantém uma relação romântica com Lucas), Laís e Gustavo.
Nesse caso, não é possível usarmos a velha (e esfarrapada!) desculpa de que as pessoas estão agindo no automático ou precisam de tempo para se acostumar, já que ninguém ali conheceu Lina antes de sua transição. Ninguém chegou a conhecê-la com seu nome de registro (embora isso não seja uma desculpa legítima) ou quando era lida pela sociedade como um garoto. E ainda assim, as pessoas se sentem no direito de errar a forma não como ela quer ser tratada, mas como deve e merece ser tratada.
Tem sido frequente encontrarmos nas biografias das pessoas e nas redes sociais os termos ela/dela, ele/dele, elu/delu e suas variações. E o motivo é simples: as pessoas estão informando para o outro por quais pronomes devem ser chamadas, para que os julgamentos não sejam baseados por uma foto e um olhar hétero e cisnormativo ou por achismos.
Lina estampa seus pronomes na testa, literalmente uma informação que não dá para ignorar ao olhar para o seu rosto. E ainda assim há quem erre sob as mesmas desculpas transfóbicas de sempre.
“Não estou acostumado”. E É ÓBVIO QUE NÃO! Quantas pessoas trans fazem parte do seu círculo social? Quantas pessoas trans trabalham com você?
Quantas pessoas trans são suas colegas de faculdade? Quantas pessoas trans em posição de destaque e poder você conhece? Quantas atrizes trans são mocinhas nas novelas em que assiste?
Que tipo de conteúdo sobre pessoas trans você tem consumido? Quantos criadores trans você segue e apoia? Quantos autores trans você leu no último ano?
Se o seu círculo social é composto apenas por pessoas cisgêneras, brancas, magras, de classe média ou alta… Tenho uma coisa para te contar. Mas talvez eu nem precise. Porque você sabe, só não quer que as pessoas descubram.
Mas voltemos à justificativa do Lucas: “Eu estava me referindo a pessoas”, ele tenta se defender dentro do reality. Mas pessoa também não é um substantivo FEMININO?
A verdade é que nós, pessoas cis, estamos confortáveis com nossos privilégios e não fazemos o menor esforço para mudar um olhar que padroniza e agride pessoas trans. Estamos acomodados ao ponto de reivindicarmos o protagonismo até mesmo em situações onde somos nós os agressores.
Não importava que a Lina estivesse se sentindo mal; agredida, desrespeitada. Não importava que suas lágrimas fossem legítimas e fossem um acúmulo de todas as pequenas agressões sofridas ao longo da vida. Importava que o pobre menino Lucas havia cometido um erro e estava arrasado por isso. Importava que ele merecia o perdão da Lina, porque estava sofrendo com o próprio erro.
“Ele não fez por mal.” “A intenção dele não foi te machucar.” “Conversa com ele, ele está se sentindo péssimo.”
E onde Lina esperava ter acolhimento recebeu o de sempre: o discurso de que as dores de um homem branco, heterossexual, cisgênero e magro importavam mais que as dela. É como se dissessem: "Engole sua dor e vai lá deixar o menino mais confortável”.
Por mais quanto tempo pessoas trans precisarão engolir suas dores para que pessoas cis não se sintam desconfortáveis por seus erros e ignorâncias?
Thati Machado para a coluna LGBTQIAP+
Encontre-a no Instagram @machadothati