Infelizmente somos obrigados a evidenciar a triste realidade da sociedade em que vivemos. Uma comunidade doente socialmente, onde pessoas não conseguem equilibrar em sua rotina de vida o bem-estar dos outros no mesmo nível que o seu próprio.
Temos presente uma sociedade que adora gritar por seus direitos, mas que desrespeita sem pudor, os direitos óbvios dos que estão a menos de 50 metros de convivência. Precisamos cada vez mais de leis que nos limitem a dizer somente o aceitável, como se fosse o inaceitável digno de ser proferido em ambientes públicos; precisamos de leis que nos impeçam de exagerar no álcool se formos dirigir, que nos impeçam de tocar nos corpos de outrem, que nos limitem a comprar enormes quantidades de produtos em um período de crise.
Precisamos de leis que preencham a lacuna da deseducação que recebemos enquanto nossos pais estavam ocupados demais com a própria poupança ou com a situação emocional dos seus relacionamentos amorosos… precisamos de novos pais, bem mais autoritários, para nos ajudarem a guiar nossa vida com uma dose certeira de civilidade, tão fora de moda nos dias atuais!
Pagamos advogados e psicólogas para nos ajudarem a ajustar o que nunca deveria ter saído dos eixos, mas que saiu, e não há discurso de bem nem oração que faça voltar. Agradecemos o mal que não nos pegou, mas esquecemos de lamentar pelo mal que ofuscou a vida dos que estão próximos. Costumamos voltar nossas atenções para as crises que vêm e vão, mas não nos percebemos causadores de muitas delas, das que são causadas com e-mails impetuosos, com ligações ríspidas, com gritos histéricos das nossas varandas, onde expelimos nosso ódio pela ideologia, aparentemente burra, do nosso vizinho de prédio.
Pagamos um absurdo a escritórios de arquitetura para que nossas casas virem um palácio, cheio de armários impecáveis e piso moderno, mas esquecemo-nos de questionar se o tempo curto estimado para a obra é compatível com um mínimo de conforto sonoro para a comunidade que estamos recém-adentrando. De novo, precisamos de regulamentos que determinem quais horários podemos fazer obras em nossas casas, como se já não fosse claro que qualquer quebradeira o dia inteiro é humanamente insuportável…
O que está em falta na sociedade atual não são somente “respiradores”, como percebido na grave crise do Coronavírus, mas algo muito, muito mais importante, que é o “respeito ao próximo”, algo tão imprescindível e necessário em um mundo que precisa de leis e regras para impor o que deveria ser gratuito e fácil: a empatia.
Fui! (Refletir…)