Sim, importa. A sua cor importa. Desculpe parecer incisiva em citar um detalhe do seu atributo físico, mas a realidade é que todos os detalhes da sua história importam: a forma com que seus bisavós foram escravizados, a forma como seus avós e, provavelmente, seus pais foram humilhados por décadas, e a forma como você veio ao mundo, com olhos piedosos te cumprimentando pela árdua tarefa de sobreviver em um mundo esculpido por mãos negras para satisfazer vidas brancas.
Espero que você entenda que o desamor que você sofreu desde sempre por conta da sua falta de opção em nascer com a sua pele escura não é intencional, ele é, na maior parte das vezes, um reflexo de toda a cultura opressiva a que eles, “os brancos” foram submetidos. É difícil viver em um mundo de brancos, assim como é difícil viver em um mundo onde você não consegue se encaixar… isso acontece com muitos homossexuais, judeus, gordos, deficientes, amantes, drogados e tantos outros, que são constantemente classificados de uma forma errada para os padrões rígidos de uma sociedade falida. É difícil, mas não é impossível, porque os padrões não são eternos, eles mudam.
Então, não minimize a importância da sua cor para misturar-se na multidão sufocante que aplaude guerras como se presenciassem o nascimento de uma nova vida. Não se misture, ressalte-se. Viva intensamente a escuridão avassaladora de todo seu ser, que aglomera anos de sofrimento para transformá-lo em pura poesia, com um brilho próprio, que se sustenta pela potência da sua melanina, imensa e absurdamente vasta em um corpo pintado por um Deus que escolheu você para transformar ideias pálidas e preconceituosas, em uma imensidão de novas oportunidades.
Mas não se esqueça nunca de que a sua cor importa; ela é o que te define gigante.
Fui! (Ouvir você…)