Numa livraria dessas de aeroporto, meu olhar se perdia diante de tantos papéis, mas não se fixava em nenhum.
“Não achei nenhum que eu gostasse”, disse à minha mãe. Frustrada, pois teria algumas horas de voo consumidas pelo tédio. Foi quando ela me entregou um livro de capa azul. Na capa, “Segredos de Justiça” de Andréa Pachá. “Ela é ótima, Gi. É uma juíza que escreve sobre os casos em seu trabalho”. E dessa forma foi, passamos pelo caixa e saí da livraria com uma sacola de plástico.
Mesmo assim, o voo foi entediante. Nem me lembro se cheguei a dar uma chance ao livro. Afinal, com 16 anos, não sei se teria a maturidade necessária para compreender todas as densas nuances relacionais que Andréa costura em seus textos.
Agora, com 18 e um pouco mais comprometida com a escrita e a leitura, achei na coleção de livros da minha mãe um dos primeiros e mais famosos títulos da juíza: “A vida não é justa”. Algo me tocou para começar este primeiro, e, desde que meus olhos encontraram suas palavras, não quis mais ler nada diferente.
Ironicamente, apesar do meu hábito de escrita, nunca consegui formar um hábito rotineiro de leitura. Andréa mudou isso.
Estou tentando parar o tempo com o intuito de que os capítulos não acabem.
Me envolvo nas histórias mais até do que me envolvo em dramas rápidos e prontos de Instagram de fofoca. Uma raridade nesse mundo de pandemia, em que nada mais prende a atenção de ninguém.
Fica aqui expressa minha gratidão à Andréa Pachá, quem considero quase como uma amiga próxima. Assim como ela, absorvo os problemas do outro e suas dores por vezes me machucam mais do que a eles próprios. E não existe um lugar de mais dores do que o fim burocrático e concreto de relações numa Vara da Família.
Andréa fala a mesma língua que eu. Lê-la me traz a mesma sensação do que escrever, coisa que jamais encontrei em lugar algum. Num trabalho em que é preciso uma impessoalização do juiz, Andréa consegue captar toda a sensibilidade que eu encontro em mim e sempre vi como uma fraqueza e a qual sempre tive dificuldade em encontrar nos outros.
Pois eu encontrei nela.
Matéria de Giovana Carvalho para a coluna Resenhas & Dicas
Encontre-a no Instagram @giovanacarvlho
Sobre a autora:
Andréa Pachá é juíza, formada em Direito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Depois de quase vinte anos à frente de uma Vara de Família, Andréa atualmente atua na Vara de Sucessões. Foi membro do Conselho Nacional de Justiça, vice-presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros e coautora da Cartilha da Nova Lei de Adoção e Pela simplificação da linguagem jurídica. Além de A vida não é justa, Andréa Pachá é autora de Segredo de Justiça e Velhos são os outros.