Queria poder dizer que adoro o novo mundo que se apresenta diante dos meus cansados olhos, mas não consigo me emocionar com as cores neutras que expõem as novas verdades com gosto de comida processada e com pouco sal…
Vejo conhecidas de caminhada se perderem em discursos moralistas e socialmente empáticos, tentando sobreviver em meio ao temporal de conceitos que nos obrigam a olhar sempre em uma mesma direção.
Gosto do controverso e acredito no atrevimento pungente que estimula os opostos, que desvirtua o bom e que exalta o diferente; mas percebo o eco dissonante que interrompe nossas vozes com um saber majestoso e castrador.
Somos reféns do sexo feroz que fizemos quando éramos crianças; parimos um bebê desnutrido que ganhou força com os nutrientes que aportamos e, quase sem querer, somos surpreendidos com este ser enorme, que nos ordena calar com a crueldade da ameaça velada que incita apagar nossas memórias e nossas antigas crendices.
Não podemos tocar nossa música no volume alto a que nossos ouvidos estavam acostumados porque sua melodia magoa aqueles que nem sabiam da sua existência, não podemos dançar aquela dança porque seus passos se confundem com gestos obscenos e não podemos vestir aquela camisa porque a frase que foi impressa na peça se confunde com a bandeira política do partido de oposição ou de predileção (já não sei!).
Não podemos mais manifestar nossos desejos e nossos receios, não podemos ser quem queremos nem ler o que gostamos. Somos neutros e cinzas, somos rasos e centrais, somos sombras de um passado e desertores de um futuro libertário.
Ressaltamos tanto a escravidão passada que nos tornamos os próprios escravocratas de nosso ser digital. Caminhamos a passos largos para um modelo mais inquisitor e castrador que nossos antepassados jamais conheceram.
E o pior é que muitos de nós acreditam que estamos revolucionando o mundo… na verdade, estamos apenas deixando de existir como pessoas que têm opinões sobre o mundo, os fatos e si próprios.
Cris Coelho