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Aquela foto que dispensa legenda


Foto: Gabriel BOUYS / AFP


As Olimpíadas de Paris ainda não terminaram, mas para mim, já foi definida a foto da competição. Mesmo com tantas imagens belíssimas, tantas expressões de superação, a imagem de Rebeca Andrade no pódio, sendo reverenciada pelas atletas americanas Simone Biles e Jordan Chiles, é, sem dúvida, a mais simbólica. Contudo, a cena que se segue é ainda mais bela e poderosa, quando as atletas seguram as mãos umas das outras. Isso transcende a competição e nos ensina lições valiosas.


Em um ambiente de competição e alto rendimento, onde a rivalidade é muitas vezes exacerbada, essas atletas mostraram que a verdadeira vitória vai além das medalhas. Ao segurar as mãos de suas concorrentes, elas enviaram uma mensagem potente ao mundo inteiro: a celebração das conquistas alheias não diminui as nossas, pelo contrário, enriquece o espírito esportivo e humano.


Como não tirar lições para o mundo corporativo?


Você já deve ter ouvido falar da cultura de rivalidade e competição excessiva entre as mulheres no ambiente corporativo, e que, diferentemente da visão que se tem da parceria entre os homens, prevalece a noção de que as mulheres precisam lutar não apenas contra seus desafios profissionais, mas também contra as outras para conquistar o espaço limitado que lhes é oferecido (percepção gerada em função da existência de mais homens que mulheres em cargos de liderança).


Este fenômeno, que já foi batizado como “síndrome da abelha rainha”, sugere que algumas mulheres, ao alcançarem posições de poder, podem sentir-se ameaçadas por outras mulheres e, em vez de apoiá-las, podem dificultar seu progresso, muitas vezes inconscientemente.


Pode-se observar indícios desse comportamento na forma como as mulheres se avaliam. Diversos levantamentos mostram que, em geral, elas são mais críticas em relação a outras mulheres que aos homens. Existe uma alta expectativa em relação à atuação mais empática das mulheres líderes, por exemplo, enquanto homens, se tiverem apenas um momento de empatia, já são vistos como “líderes mais humanos”. A régua de avaliação das próprias mulheres varia para homens e mulheres, por mais que nos recusemos a ver.


O exemplo das atletas olímpicas é emblemático porque nos mostra que, tanto no esporte quanto no ambiente corporativo, a verdadeira grandeza não está apenas em superar os concorrentes, mas em elevar umas às outras.

No fim das contas, esse olhar mais crítico entre as mulheres só aumenta as oportunidades para os homens, principalmente em ambientes tradicionalmente masculinos. O que poderia se traduzir em parcerias de sucesso entre mulheres acaba por drenar a energia com a disputa constante e a falta de acolhimento, reduzindo as oportunidades para que mais mulheres cheguem à liderança. Esta é uma triste realidade.


O exemplo das atletas olímpicas é emblemático porque nos mostra que, tanto no esporte quanto no ambiente corporativo, a verdadeira grandeza não está apenas em superar os concorrentes, mas em elevar umas às outras. O gesto simples de unir as mãos no pódio simboliza o apoio mútuo e o reconhecimento das jornadas difíceis que cada uma enfrentou para estar ali. É um lembrete de que, apesar das diferenças e das competições, a solidariedade e o respeito devem prevalecer.


Ao promover a sororidade e o apoio mútuo, as mulheres podem transformar a dinâmica competitiva em uma força poderosa para o bem coletivo, promovendo um futuro mais equitativo e inclusivo para todos.

Seja no esporte ou no ambiente corporativo, o verdadeiro sucesso é alcançado não apenas através de conquistas individuais, mas também pelo apoio mútuo e pela valorização do bem-estar integral, que também envolve se sentir acolhido.


As barreiras que historicamente têm dificultado o avanço das mulheres podem ser derrubadas mais rapidamente se houver um esforço conjunto para superar os obstáculos sistêmicos. Ao promover a sororidade e o apoio mútuo, as mulheres podem transformar a dinâmica competitiva em uma força poderosa para o bem coletivo, promovendo um futuro mais equitativo e inclusivo para todos.


E isto tende a reverberar e servir de exemplo para futuras gerações de mulheres líderes, pois ao verem mulheres em posições de poder apoiando umas às outras, as jovens profissionais são inspiradas a adotar os mesmos valores e práticas, perpetuando um ciclo positivo de colaboração e crescimento mútuo.


Em um mundo frequentemente dividido, o exemplo dessas atletas nos incita a buscar mais compreensão, apoio e celebração das vitórias alheias, seja em nossas carreiras, em nossos círculos sociais ou em qualquer outra esfera da vida.



Érica Saião para a coluna Mulher & Carreira

Encontre-a no Instagram: @erica.saiao e no LinkedIn: @ericasaiao.

 

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