No começo do mês, a Balenciaga divulgou a campanha Gift Shop para apresentar a nova linha de presentes de fim de ano, composta de alguns acessórios e objetos para casa. Em algumas das fotos, crianças aparecem segurando ursinhos de pelúcias com looks bondage de couro, cercadas por outros produtos. Não demorou para acusarem – com razão – a etiqueta de sexualizar menores de idade.
Vivemos em uma era onde os conceitos sobre moralidade estão cada vez mais escondidos dentro da dinâmica do consumo. Somos reféns das estratégias de marketing das décadas de 80, 90 e anos 2000, onde a felicidade estava alicerçada aos conceitos de prazer e beleza, e escondia em sua trajetória um enorme repertório de obscenidades.
De certo, não intencionamos custear marcas que desmerecem o conceito enraizado de caráter e ética que absorvemos na construção da identidade do nosso acerto; porém, somos tentados à cair na armadilha de consumir o que reluz aos nossos olhos. E assim seguimos. Sem mais nem menos, optamos por consumir doses de perversidade sem nem mesmo nos darmos conta; atropelamos o bom-senso quando nos deleitamos do prazer vil que é ter pequenos orgasmos em forma de pontes condutoras para sobrevivermos ao caos da pornografia diária com que somos obrigados a conviver.
E é aí que nos deparamos com a realidade nua e crua: vivemos tempos sombrios onde a imoralidade é cotidiana e o vulgar que se sobressai nas performances frenéticas, nas letras escrachadas e nas fotos deturpadas, lucram mais (muito mais!).
Há décadas vemos a cultura pop ser engolida cada vez mais pelo surgimento do absurdo, do dito "ousado", do imoral. E a cada novo ciclo é necessário encurtar mais a saia, a idade e o rebolado. Se antes era a Playboy que instituía o conceito do pornográfico, hoje é quase impossível emocionar-se com alguns vastos pelos pubianos... são as dobras vaginais, cuidadosamente retocadas que vibram na cadência da dança do erótico e, acreditem, erótico vende (muito!).
Balenciaga, a nova marca a ser alvo de cancelamento pela mesma indústria que fomenta essa orgia, é também mais uma a impostar sua voz contra os abusos infantis e a pedofilia. Após uma malsucedida estratégia de marketing a marca deve amargar um prejuízo de alguns milhões, porém nada que faça com que seu reluzente brilho se encolha, afinal, ela pertence à mesma indústria que fomenta o "over" em todos os seus aspectos para atingir seu objetivo final: o lucro.
Sim, pensar em pedofilia é algo que dói na alma de todas as pessoas de bem que vivem em uma sociedade. Mas é importante estarmos atentos aos excessos a que a cultura do consumo está gradativamente nos impondo: são ícones pop que sugerem sexualmente as danças mais "elásticas" (para não dizer obscenas), são terminologias e palavras de baixão calão expostas em qualquer streaming de música, sem o menor cuidado e são produtos com teor altamente excitante que circulam diariamente no feed dos nossos filhos. Isso tudo faz parte da cultura do "quanto mais chocante, melhor". E nossas crianças crescem com todo esse lixo que é exposto para o consumo cultural e material desta geração, tendo como referência a hipersexualização precoce, infelizmente...
E quando paramos para pensar na pergunta: "Qual é o limite?", ouso dizer que o limite não é mais social, mas individual. Sim, qual o limite que toleramos para consumir esse ou aquele produto? Qual o limite que aceitamos quando o assunto é prazer? E qual é o limite que seu caráter genuíno pode tolerar (aquele que ainda não foi aniquilado pela grande mídia).
Cris Coelho
Cris Coelho para a coluna Empoderamento
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