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Matéria de capa: Tatiana Amaral

A mulher que é mãe, escritora Best-Seller e empresária.


Tatiana Amaral é autora best-seller de romances com 32 livros publicados, mais de 400 mil cópias físicas vendidas e mais de 80 mil e-books vendidos. Na Amazon, ela é uma sensação: seus livros somam mais de 8 bilhões de páginas lidas no Kindle Unlimited, a plataforma de leituras por assinatura da Amazon.


É assim que a maioria das pessoas a conhece, mas ela é muito mais que isso. Nascida em Salvador, Tatiana se preparou para estudar teatro, prestou vestibular para direito, formou-se em administração – em um curso com habilitação em marketing — e, no final, encontrou-se como escritora.


Ela é mãe de três meninos, esposa, empresária, aconselhadora, mulher liberta, irmã, contadora de histórias para dormir, doadora de beijinhos que curam, advogada, babá, cozinheira, faxineira, juíza…


Cansou? Imagine ela! Mas sabe o que é peculiar? Ela está sempre sorrindo.


Conheci a Tatiana na Bienal do Livro no Rio de Janeiro, depois de ter passado quase uma semana ouvindo sobre seus feitos por outras pessoas. Como eu era uma autora iniciante, que estreava na editora na época, fiquei apavorada só pela perspectiva de encontrá-la, porque admirava o quanto ela já tinha conquistado. Por tudo o que diziam, imaginei uma mulher formal, séria e de poucas palavras. Mas adivinhe só! Quando Tatiana chegou ao estande, não demorou a falar comigo. Sim! Ela é a simpatia em pessoa.


Tatiana não se apresentou a mim como escritora best-seller, mas como mulher. E eu amei! Com muita gratidão, aprendi demais com suas vivências, que ela me ofereceu com tanta leveza. Durante aqueles dias da Bienal e na amizade que se seguiu, fiquei chocada à medida que entendia quem ela realmente era.

“Na Amazon, ela é uma sensação: seus livros somam mais de 8 bilhões de páginas lidas no Kindle Unlimited.”

Uma lutadora, que continuou a acreditar e a sonhar mesmo quando lhe disseram que não conseguiria, que era doida. Uma pessoa de luz, sorriso fácil e palavras simples; experiente, determinada ao falar com as pessoas, mas sempre com uma diversão natural. Ela não foi gentil apenas comigo, mas com todos que a abordaram. Mostrava-se tímida quando ressaltavam suas conquistas e cômica com os que já tinha mais intimidade. Senti nela um profundo carinho, em meio a muitas conversas, porque vi que pessoas boas, simples e obstinadas podem vencer na vida.


As histórias de vida dessa mulher são as melhores, e não demorou para que sua relação com a maternidade me chamasse a atenção.


Tatiana sempre falou de seus filhos com muito amor, mas sem esconder como ser mãe é difícil. Contou sobre como sentia saudades quando viajava; como era, por muitas vezes, um pesadelo conciliar a rotina e os cargos de mãe e escritora; e como ela e o marido lutavam para conseguir viajar. Achei de sua sinceridade refrescante.


Por isso, não tive dúvidas de que ela seria a pessoa ideal para comandar a coluna “Desabafo de Mãe” na MS. Seus textos só me surpreendem, e a MS se orgulha por tê-la.

Senhoras e senhores,

Tatiana Amaral.

MS – Você tem uma ligação muito forte com a sua família e com a maternidade, mas qual foi o momento em que você realmente decidiu ser mãe?

Eu nasci para ser mãe. Venho de uma família grande, com muitos irmãos, primos e tios, então esse sempre foi o meu ideal. Não consigo me lembrar de nenhum momento da minha vida em que eu tenha questionada essa vontade, mas me lembro do medo de não acontecer, de eu não poder ter filhos, e acho que foi isso que me fez aceitar tão bem filhos que não gerei. Sempre brinco que na vida eu tinha duas certezas: de que me casaria e de que seria mãe. O resto viria conforme acontecesse.


MS – Como é, para você, equilibrar a carreira, a rotina e a maternidade?

Já foi pior. Quando me descobri como escritora, eu não tinha um suporte. Eu e meu marido trabalhávamos muito para salvar a nossa empresa, que faliu. As crianças dançavam conforme a música, um pouco com a gente, um pouco com os tios, e assim seguíamos. Eu cuidava de tudo: da casa, deles, da empresa… E à noite, quando todos dormiam, eu escrevia. Às vezes, durante a madrugada toda. Quando ser escritora deu certo, tivemos um suporte melhor; contratei uma babá, os meninos cresceram e eu pude me dedicar exclusivamente à escrita. Então eu brinco que sou mãe das seis às sete da manhã e, depois, a partir das dezoito horas, que é quando a babá vai embora e eu me dedico a eles.


MS – Você acredita que todas as mulheres são maternais ou devem ser mães?

Não acredito. Eu seria muito injusta se acreditasse nisso. E não falo só em relação às mulheres, mas também às crianças. Ser mãe é uma responsabilidade muito grande. Você precisa amar muito, e amar, na verdade, dói. Se uma mulher se tornar mãe só para satisfazer a família ou a sociedade, ela só trará mais dor. No final das contas, a criança será a culpada pelos sonhos dos quais ela precisará abrir mão, pelo relacionamento falido, pelas contas altas — e Deus sabe quantas justificativas recaem sobre filhos de mães que não desejavam ser mães. Minha bandeira é: seja mãe se você de fato quiser, com todos os percalços, as loucuras, as delícias e o amor que a profissão “mãe” exige. E se você não quer isso, está tudo bem.

MS – O que, para você, é o melhor e o pior de ser mãe?

São muitos pontos. Tenho filhos em idades diferentes e cada um vive o seu mundo à própria maneira. É difícil acompanhar e saber como agir. Nós, mães, erramos muito, mas erramos na tentativa de acertar. Isso, por si só, já é um peso. Você quer que seu filho tenha força para encarar o mundo, mas não entende que o mundo dele começa na sua casa; e se ele usa essa força para se impor, para definir a vontade dele, você peita — afinal de contas, como educadoras, precisamos freá-los. Mas quando fazer isso? Fica aí a pergunta de um milhão de dólares. Não aprendemos a ser pais, aprendemos a amar. E talvez, por amor, dê certo no final. Quem vai saber? É um jogo de sorte ou azar.


O lado bom, realmente bom, é olhá-los, em qualquer idade, e saber que são boas pessoas; mesmo com as dificuldades, com as birras, com as ideias que acreditamos serem equivocadas.


Eu sou o tipo de mãe que dá espaço aos filhos. Se eles querem ficar juntos, eu acolho; se não querem, eu aceito. Mas todos os dias eu os abraço — até os crescidos, que relutam quando os pais demonstram carinho — e digo que os amo. Eles são meu orgulho, meu ar e minha força. Eu amo ser mãe.


MS – O que mais mudou na vida depois da maternidade?

Vou ser sincera: mudou tudo, mas para melhor. As primeiras experiências são traumáticas; você nem sabe o que fazer com aquele boneco que só chora, come e faz as necessidades dele sem se importar com as suas. Mas, quando fui mãe, eu já tinha vivido tudo o que queria. Tinha viajado, namorado, estudado e trabalhado muito. Pulei todos os dias de carnaval, festejei todo São João, até que eu me tornei mãe e essas curtições passaram a ter outro tom.


Não sinto falta de quase nada, exceto de reunir os amigos, mas isso acontece de uma forma ou de outra. Os que ficaram, os que amaram serem tios dos meus filhos, hoje são família, e eu amo isso. Eu vejo a vida como um ciclo, e para que um ciclo comece outro precisa terminar. Amigos ficam no passado, novos surgem e você curte mais as festinhas infantis, os parques de diversões e as viagens em família.


MS – O que seus filhos acham da sua carreira como escritora de romances? O que você sempre tenta passar para eles?

Meus filhos amam. Nunca leram nada do que escrevi, mas para eles eu sou A escritora, sou o suprassumo da literatura nacional. Falam para os amigos, tiram fotos dos meus livros nas livrarias e vibram com minhas conquistas. Hoje, dois deles me ajudam no trabalho, na parte de rede social, e eu sou aquela mãe babona que fica dizendo: viu o que meu filho fez? (risos)


O menor ainda faz muitas perguntas — quer saber como o livro é feito, como eu consegui escrever tantos livros e por que eu fico tanto tempo na frente do computador escrevendo.

Como vim de uma família apaixonada por livros, com pai, mãe e irmãs que debatiam a leitura na mesa do jantar, tento fazer o mesmo. Incentivo demais a leitura, mas não digo o que eles podem ou não ler. Eles escolhem e eu oriento, compro os livros que pedem. Um não gosta de e-books, o outro adora, e o pequeno ainda está aprendendo a ler, então escolhemos juntos a leitura da noite. Eu amo esse momento. Sei que ele vai dormir em cinco minutos, mas ele pede e eu leio. É uma delícia.


“Ser mãe é uma responsabilidade muito grande. Você precisa amar muito, e amar, na verdade, dói. Se uma mulher se tornar mãe só para satisfazer a família ou a sociedade, ela só trará mais dor.”

MS – Qual o momento que você considera mais marcante na sua vida?

Depende. (risos) Eu sou uma pessoa que vive muitas vidas. Como pessoa, acho que a morte do meu pai me fez enxergar um mundo diferente; a saudade me fez valorizar cada instante ao lado dos que amo.


Como escritora, sempre penso que o ano de 2016 foi incrível: tive dois momentos mágicos na Bienal do Livro de São Paulo, com casa lotada e mais de 600 pessoas aguardando por mim. Em seguida, recebi três prêmios da Amazon. Esse foi o ano que me fez enxergar minha carreira de escritora como algo que tinha dado certo. Como mãe, eu também cito o ano de 2016. Foi quando meu filho caçula nasceu, um ano muito bom e calmo para mim, então eu o curti como não tinha conseguido curtir os outros — e esse era sempre um pedido que eu fazia ao universo, a chance de ter um filho do qual eu pudesse curtir cada momento.


MS – Você se arrepende de alguma escolha?

Não sei. Talvez sim, né? O que seria da vida sem os arrependimentos? Como amadureceríamos? Só que não consigo pensar em nada agora.

Hoje, olho para cada passo que dei e penso: ele foi necessário para que eu chegasse até aqui. Eu sei que fiz o meu melhor diante do que tinha em mãos.


MS – Como você enxerga a liberdade da mulher na maternidade hoje em dia?

E existe liberdade da mulher em algum ponto? (risos) Essa é uma batalha que não canso de combater.


Como convivo diariamente com um público amplo, vejo e ouço coisas inacreditáveis, que ainda limitam as mulheres. As pessoas ainda educam suas filhas como se elas, e apenas elas, tivessem obrigação não apenas com os filhos, mas com a casa e o marido.


O feminismo, de forma ampla, é uma construção a passinhos de formiga. As mulheres ainda não conseguem deixar de julgar umas às outras, quem dirá romper essa amarra! Elas, infelizmente, carregam o fardo; arrastam o peso de precisar ser uma mãe guerreira, leoa, e eu odeio esse termo. Ser mãe, por si só, já é complicado. Nós nos culpamos e julgamos, então, se não formos capazes de buscar essa liberdade, a experiência será apenas de dor disfarçada de amor incondicional.


MS – O quanto você acha que a desromantização da maternidade pode beneficiar as mulheres?

Eu acho que desromantizar traz luz ao fato. Eles nos fizeram acreditar que ser mãe era mágico, lindo; que sofremos, mas que o amor tudo salva, tudo cura. Balela pura!

Quando a mulher encarar a maternidade como ela é de verdade, saberá quais lutas deve lutar e em quais nem deve entrar para não perder tempo.


“Seja mãe se você de fato quiser, com todos os percalços, as loucuras, as delícias e o amor que a profissão “mãe” exige. E se você não quer isso, está tudo bem.”

MS – Você escreveu vários romances eróticos. Já sofreu algum preconceito por causa disso?

Já. Comecei quando ninguém queria falar sobre isso.

E eu, cria de uma família incrível, pensava: ué?! Sexo é proibido? E Jorge Amado? E tantos outros autores que foram consagrados sem deixarem de escrever o erotismo? Então eu entendi: sexo é proibido para as mulheres. Chega a ser engraçado. Quando percebi que esse era o problema, assumi minha posição, fui lá e escrevi um livro que foi premiado, que foi traduzido para fora do Brasil.


Eu, mulher, escritora de erótico, falei que a mulher tem direito ao sexo — e não apenas a ele, mas ao prazer também — sem que recaia sobre ela o julgamento de uma sociedade machista e hipócrita. Eu disse: vamos ter essa conversa! E o resultado foi maravilhoso.


MS – Você se sente realizada como empresária? O que ainda falta para você em sua vida?

Eu me sinto realizada. Amo o que faço e não me enxergo de outra forma, mas não cheguei lá, sabe?

Eu olho para mim e me vejo no meio da escada: é alto, porém não é o limite. Eu quero muita coisa. Quero meus livros nas telas, quero meus livros no mundo.


MS – Que mensagem você gostaria de deixar para todas as pessoas que te acompanham na sua coluna e na sua jornada?

Eu amo escrever sobre ser mãe. Nunca imaginei que minhas histórias, meus medos e minhas inseguranças como mãe poderiam virar algo tão importante e necessário. É uma experiência única. E eu sei que muitas leitoras que me acompanham desde o começo estão na revista, acompanhando os desabafos que eu fazia nos grupos, quando nos apoiávamos, e sou muito grata por esse carinho.

Matéria escrita por Alexia Road


Tatiana Amaral escreve para a coluna Desabafo de Mãe

Encontre-a no Instagram @tatianaamaraloficial

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