Já ouviu falar de codependência?
Segundo o Dicio (Dicionário Online de Português), codependência é uma condição da pessoa que se encontra numa situação de dependência emocional, afetiva ou familiar em relação a outra pessoa que demonstra comportamentos ou ações autodestrutivas, problemáticas, nocivas e inconstantes.
Quem é codependente abdica da sua própria vida em função da de outro indivíduo. Em matéria publicada dia 20/11/2020 no site https://www.psicanaliseclinica.com/ especialistas explicam: “Um ótimo exemplo de um codependente é um indivíduo que aceita os vícios do parceiro e as consequências de suas ações sem reclamar. Além disso, também há quem ceda às chantagens emocionais, ficando atado emocionalmente a outra pessoa.”
Por ter medo de perder o amor de alguém, o codependente acaba o tempo todo buscando a sua aprovação. Mesmo que sofra ao tolerar determinados abusos, fará o que puder para conquistar a atenção do outro.
Esse comportamento leva a uma autodestruição gradual resultando em baixa autoestima e perda de autonomia.
Para se livrar da codependência primeiro é necessário compreender que está em uma situação assim. Se vive em um relacionamento tóxico e doentio, não tenha medo ou vergonha de reconhecer o problema e procurar ajuda.
No site Codependentes Anônimos Brasil https://codabrasil.org.br/ há uma matéria apontando as características do codependente, retiradas do livro “Codependência Nunca Mais”, da autora Melody Beattie. Veja quais são:
Considerar-se e sentir-se responsável por outra(s) pessoas(s) – pelos sentimentos, pensamentos, ações, escolhas, desejos, necessidades e bem-estar.
Sentir ansiedade, pena e culpa quando a outra pessoa tem um problema.
Sentir-se compelido(a) – quase forçado(a) – a ajudar aquela pessoa a resolver o problema, seja dando conselhos que não foram pedidos, oferecendo uma série de sugestões ou equilibrando emoções.
Ter raiva quando sua ajuda não é eficiente.
Comprometer-se demais.
Culpar a outra pessoa e dizer que ela faz com que se sinta da maneira que se sente.
Achar que a outra pessoa, de quem é codependente, o(a) está levando à loucura.
Sentir raiva, sentir-se vítima, ter a sensação de que está sendo usado(a) e que não é reconhecido(a) pelo que faz.
Achar que não é bom ou boa o bastante.
Contentar-se apenas em ser necessário(a) a outros.
É importantíssimo ter amor próprio e se valorizar, antes de pensar em amar ou cuidar de outra pessoa. E compreender que por mais que ela te ame e precise de você, tem suas individualidades e necessita de espaço e autonomia. Você não pode ser responsável por resolver os problemas de quem está contigo e nem deve se colocar a disposição 100% do tempo. Também tem a sua vida, necessidades e sonhos, então se cuide antes de querer cuidar dos outros.
Na matéria da revista online Psicanálise Clínica, os especialistas alertam: “Ainda que pessoas próximas e queridas precisem de apoio, isso não significa que você deve se deixar de lado por elas. Focar em si mesmo(a), amadurecer e entender as próprias vontades permite que você seja um parceiro ou parceira melhor e uma referência de pessoa produtiva. Jamais negligencie as suas necessidades! Somente quando estiver pronto(a), estenda a mão para ajudar quem precisa.”
Resolvi abordar esse tema hoje, porque tenho um exemplo de uma mulher próxima a mim, maravilhosa, que durantes anos viveu em relação de codependência com seu parceiro. Para não a expor, mudarei seu nome e alguns detalhes da sua história. Vou chamá-la de Maria, para poder contar o que aconteceu.
"É importantíssimo ter amor-próprio e se valorizar, antes de pensar em amar ou cuidar de outra pessoa."
Maria conheceu um rapaz por quem se apaixonou. Não demorou para que eles começassem a viver um relacionamento de codependência. Ele precisava dela o tempo todo, para ajudá-lo em várias questões, e Maria foi deixando seus próprios sonhos para viver os dele. Chegou inclusive a largar um doutorado e a mudar de cidade para acompanhá-lo, porque ele havia passado em um importante concurso.
Eles se amavam, o sentimento era nitidamente recíproco, no entanto a relação doentia foi ficando cada vez mais desgastada. De repente Maria tinha perdido todo o amor próprio, estava com a autoestima abalada e julgava que precisava dele inclusive para conseguir se manter na nova cidade. Enquanto ele foi construindo sua bem-sucedida carreira, a dela ficou de lado. Maria começou a acreditar que ele era muito melhor que ela e com isso passou a ter um ciúme exagerado. Não demorou para começarem a brigar e quando ele a traiu, foi o fim do relacionamento.
Maria ficou arrasada, pois acreditava que não conseguiria viver sem ele, tanto emocionalmente, quanto financeiramente falando. Em certo momento da sua vida, sentindo-se no fundo do poço, deixou a cidade grande e voltou para a casa da mãe no interior. Estava infeliz, destruída, sem perspectiva de futuro.
Mesmo com o carinho e apoio da família e com a psicoterapia, nada parecia ajudá-la a resgatar o amor próprio, sua autonomia e seus sonhos.
Em uma atitude meio desesperada, quando disse “Não aguento mais viver assim e não tem nada aqui pra mim”, ela voltou para a cidade grande, a mesma onde viveu com o ex-companheiro, alugou um apartamento minúsculo, que era o que conseguiria bancar, e começou a tentar se reconstruir.
E aqui quero ressaltar o poder da atitude e mostrar como algumas decisões podem mudar completamente o rumo de nossas histórias.
Maria fez uma amiga e resolveram começar um negócio próprio. A pequena empresa deu muito certo, foi quando ela saiu do fundo poço de vez, pois não só passou a ganhar dinheiro, como voltou a acreditar em si mesma. Com a autoestima e amor próprio resgatados, ela acabou arrumando um novo namorado.
Dessa vez embarcou em um relacionamento saudável, em se apoiam, sem sufocarem um ao outro, se valorizam e sonham juntos.
Hoje Maria é uma empresária bem-sucedida, casou e ganha muito mais dinheiro do que já pensou que conseguiria. Ela e o marido moram em um apartamento grande, com conforto e até certo luxo e pensam em ter filhos.
A partir do momento que se libertou de um relacionamento tóxico e disse “nunca mais” para a codependência, recuperou sua autoestima e autonomia e coisas maravilhosas começaram a acontecer, dando uma impressionante reviravolta em sua vida.
Por mais que o que estamos vivendo às vezes pareça um pesadelo, uma prisão, o fundo do poço, algo sem solução, é possível nos libertarmos, encontrarmos uma saída e mudarmos nossa história.
Se você se reconheceu em algo nesse texto, procure ajuda, tome uma atitude. Assim como aconteceu com Maria, tenho a certeza de que um futuro maravilhoso ainda a aguarda. Ame-se acima de tudo e de todos e acredite em você!
Beijos e até a próxima!
Renata R. Corrêa para a coluna Universo feminino
Fontes de pesquisa para compor a matéria: