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Com que roupa eu vou?



Além dos óbvios temas políticos, um assunto se destacou na posse do presidente, em Janeiro: a roupa da primeira-dama. Minhas seguidoras e amigas, independentemente de suas posições politicas, ficaram divididas. As que detestaram diziam que parecia fardão da ABL, roupa quente para nosso clima, blazer com ‘rabo’, deixou ela mais bunduda... Quem gostou ressaltou a brasilidade dos bordados, o tingimento natural. Teve quem viu no desenho do blazer a roupa de uma maestrina! Mas o que me chamou a atenção foram os vários comentários minimizando todo esse alvoroço em torno da roupa, destacando que o importante era a postura, o foco no trabalho, a atividade eficiente dentro do seu papel. Não sou muito ligada em moda, mas é obvio que a roupa que usamos passa uma mensagem!


Vamos envelhecendo, e esta preocupação com o que vestir fica cada vez mais complexa. Eu gosto de vestidinhos, de minissaia, mas fico incomodada de ser interpretada como uma velha que quer parecer garotinha... bem, no meu caso, o cabelo branco ajuda, porque se quisesse parecer tinha que pintar, né? E ainda tem a repressão, por parte das mulheres até, de não mostrar as celulites, decote com peito caído, barriga ressaltada. Esta mensagem eu, particularmente, quero passar: não estou nem aí; achou feio, não olha. Eu acho lindas minhas marcas do tempo e, se a roupa que eu quero usar as mostra, melhor.


Claro que existem códigos sociais a serem respeitados. No ambiente de trabalho, por exemplo, sou conservadora. Usava terninhos, vestidos abaixo do joelho, sem decotes, e com sutiã (um sacrifício, detesto!). Brincava com minhas amigas dizendo que estava fantasiada de ‘barbie executiva’. Tanto que, agora que saí do mundo corporativo, estou vendendo todas as minhas ‘roupas de trabalho’. Tenho uma lojinha lá no enjoei, a Grisbazar, passa lá pra ver!

Depois deste momento propaganda, vamos voltar ao ponto: roupa importa sim! Mesmo que você não esteja nem aí para o que os outros pensam, vivemos em sociedade, e a roupa é um importante código de comunicação. As primeiras ‘coroas’ que romperam com o estereotipo de velha senhora/vovozinha tiveram que partir para o figurino ‘overfashion’, ousar nas cores, combinações, ser extravagantes, para serem notadas. A mulher ícone é a Iris Apfel, que sempre rompeu padrões e, por ter um estilo próprio, se destacou aos 84 anos como diva fashion, inspirando as mulheres maduras a se expressarem através do seu visual. Aqui no Brasil eu sigo o perfil da maravilhosa modelo Vó Izaura Demari, que segue o estilo extravagante, óculos redondos enormes, da Iris. E curto também outro estilo totalmente diferente, o da Dona Dirce Ferreira, apresentadora do programa ‘Comida de vó’, mas que no instagram gosta mesmo é de fazer dancinhas tiktokianas de lingerie... amo!


Mas não precisamos partir para os extremos para conquistar nosso espaço. Ser quem a gente é, numa sociedade que tenta colocar todo mundo dentro de padrões, já é um avanço! E uma luta constante. Ando pensando em fazer um curso de corte e costura, para poder fazer as roupas que gostaria de vestir e não encontro. Ou arrumar uma costureira que conseguisse traduzir o que quero, sem me cobrar os olhos da cara, só porque não posso pagar. Se pudesse, contratava a estilista que fez a roupa da Janja... Confesso que, quando bati o olho, não gostei do terno, da referencia masculina. Mas fui adorando todos os detalhes de brasilidade da roupa, e entendi que também a referencia ao masculino representava um manifesto à equidade de gêneros. Vestido não é pratico para varias tarefas como uma calça, é fato. A Lu Alckmin escolheu um vestido lindo, ela estava muito elegante, e de acordo com seu papel. Ela não pretende ser atuante na política, acompanhava o marido, e não competia em atenção com a primeira-dama. Teve brilho próprio no puro branco com detalhe de manga em meia capa, simples e chique.


Nunca fui muito ligada em moda, sempre privilegiei o conforto ao vestir. Continuo na onda do conforto, mas agora estou atenta para o estilo que quero manter e transparecer, no meu modo de vestir, agir, e me posicionar na sociedade, que ainda vê o envelhecimento como um tabu.


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