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Corpo místico

Colchas e lençóis devidamente passados em uma cama que sobrava espaço, faziam parte de um cenário de dois corpos, que se misturavam ao mesmo tom das paredes de um quarto vazio.

Uma cama cortada ao meio, dividida pelo tempo.


Carolina nunca deixou de se perfumar antes de dormir, uma mania antiga trazida de sua avó, mesmo com a idade e maternidade sentia-se orgulhosa de suas curvas generosas que enchiam suas mãos com suas carnes ao tocar sua própria pele.

Um ritual solitário que gostava de manter, aquilo fazia contato com memórias de seu lado apenas mulher.


Um rito que mantinha guardado.

Uma forma que tentava se manter viva, tentando resgatar seu viver erótico, mais uma vez era impedido por um choro de bebê que ecoava pela casa, seu limite em ser mãe e mulher.


Um abismo, uma contradição entre o corpo sexual e o corpo que alimenta.

Uma escritora que via seu Eros morrendo, perdida entre fraldas, louça e papinhas.

Anos de baby blues misturados à rotina do casamento. Não sabia mais se haviam passados meses ou anos, talvez 20 talvez 1.


Flashes de memórias a visitavam feito insights levando a antigas lembranças. 

Transas nas escadas, nos bancos dos carros e dos motéis baratos, homens, mulheres...

Carolina ri sozinha ao sentir sua vulva umedecer...

- Que bom, algo meu ainda vive em mim.

Seu corpo está fértil, quente.

Era como se ele se abrisse mais uma vez dando passagem para que seus dedos escorregassem por instinto até a sua buceta, dedos que dançam por todas suas curvas,  e boca, que pinga saliva ao sentir seus fluidos de desejo.


Fecha os olhos e sente pulsar novamente, algo se ascendendo dentro dela.

A única coisa que ainda ouvia era o som alto do ventilador que assoprava seus pelos da sua pele febril.


Abruptamente seus olhos se abrem e pede que seu marido a COMA. 

Que coma forte, deixando marcas e que a chame de qualquer coisa menos de seu próprio nome.

Enquanto transam se vê através dos olhos dele e não se reconhece, não reconhece aquelas duas pessoas, o que a excita a ponto de seus quadris movimentarem sozinhas feito uma cadela no cio.

Arranca sangue de seus lábios, como quem sente vontade de engolir a presa.


Eram presas, presas do tempo, da rotina e do tédio... Mas naquele momento eram dois animais selvagens, se comendo vivos numa tentativa de segurar o tempo com as mãos.

Se mantinham inteiros, entregues até a última gota de seu suor e saliva.

Transformando em gemidos os gritos que eram calados em sua garganta. Na garganta queria apenas o gosto daquele pau que sentia enterrado em sua goela, enquanto cravava suas unhas nas costas dele.

Uma confluência, mistura, transformando seu suor em éter.


Ele não aguentou segurar seu gozo, sentindo seu pau naquela boca grande e macia, que ele morria de saudades .

Então GOZA, ao mesmo tempo chora ao ver seu gozo escorrendo pelo pescoço e cabelos de sua mulher.


- Desculpa, não consegui segurar nem meu gozo nem minhas lágrimas!

- Mas ainda posso te fazer gozar.

- Nunca vi um homem chorar gozando.

- Pois é, talvez euforia e saudades de você.


Carolina ou qualquer outro devir mulher que ela tenha incorporado ali, a fez ter o orgasmo mais longo que já sentiu, com seus dedos finos enfiados em sua buceta, 

beijando lentamente a boca de seu marido, misturado ao gosto do gozo de seu rosto com as lágrimas que desciam em direção a seus lábios.


- Você também tá chorando?

- Sim, de saudades de mim. 


Gabriela Prux para a coluna Papo de Bordel

Encontre-a no Instagram: @gabiprux


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