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Desromantize a “ajuda”



O papo de hoje é mais do que necessário.


Ele será direto, com certeza não para todas, mas para uma imensa massa de mães desavisadas que caíram nesse mundo materno meio que de paraquedas. Vamos falar sobre a “ajuda” do companheiro (a).


Ok, vamos separar o joio do trigo aqui. Muitas assumiram a ideia sozinha, outras foram obrigadas a aceitar, algumas sequer tiveram a opção de lutar pela “ajuda”. Então esse artigo é para você, mamãe de primeira viagem, ou de muitas, que construiu a sua família em um espaço de vocês e com outra pessoa tão responsável por essa criança quanto você.

Aviso de cara: você pode até estar sozinha nesta viagem, mas não fez sozinha.

Quando um casal assume a ideia de ter um filho, ambos precisam entender que possuem obrigações. Colocando de uma forma mais simplificada: ninguém ajuda ninguém, cada um faz a sua obrigação.


Por favor, não pense “ah, Tatiana, mas a mulher é responsável pelo bebê. Ela ficará em casa por quatro meses e só ela pode alimentá-lo”, não pense assim. Pensou? Então “despense”.

"Se esqueça, por favor, desse conceito ultrapassado de que mãe é leoa, guerreira, suporta tudo, faz tudo. Você não precisa ser isso, em especial se não estiver sozinha nessa aventura. Delegue. Divida as tarefas."

A mulher fica em casa durante quatro meses realizando o trabalho mais complexo, cansativo e sério de toda a sua vida. Ela será sugada, exigida, julgada, cobrada… passará muitos meses da sua vida sem se permitir pensar, veja só que interessante, que tem uma vida. Os primeiros meses de uma criança exige tudo o que somos. Não tem hora para dormir, comer, usar o banheiro, cuidar de si, porque é isso o que nos ensinam e cobram.

Por isso, desromantizem a “ajuda” do companheiro ou companheira. Ambos são pais. Ambos são responsáveis e ambos precisam cumprir a sua parte deste acordo. A outra parte pode não amamentar, mas pode cuidar para você descansar um pouco, pode trocar a fralda, banhar, lavar a roupa suja, separar as limpas, ninar, brincar, distrair, levantar à noite para verificar se está tudo bem, ou para pegar o bebê do berço e levar para que você amamente.

A outra parte faz parte. Nunca se esqueça disso.


E não pensem que eu desenvolvi essa ideia sozinha. Darei sim meu exemplo, por que não? Meu primeiro filho chegou pronto. Eu só precisava colocá-lo com os brinquedos e alimentá-lo. Por isso o segundo foi um choque horrível. Eu cheguei em casa, a família inteira me esperava, foi aquela coisa louca de pegar, tirar foto, falar, conselhos de todos os lados e eu me senti no meio de um tiroteio.


Em seguida veio a solidão. As visitas foram embora, o marido foi trabalhar e eu fiquei só, com duas crianças e uma casa que seguia o seu curso. Era cuidar de um enquanto o outro dormia, arrumar casa, cozinhar, lavar, correr para amamentar, correr para desligar o fogo, limpar, trocar, banhar, cuidar... casei só de contar. E quando o marido chegava em casa tudo precisava estar pronto.


Ele exigia? Não. Mas a sociedade me disse que eu era a mulher, a mãe, a que seria responsável por essa parte, mesmo trabalhando na rua e cumprindo a minha parte financeira da casa. Resultado: as roupas avolumaram, os pratos pareciam se multiplicar, a comida passou a ser a mais simples possível e eu entrei em depressão. Tá pensando que é fácil? Não é. Até então eu pensava que deveria ser uma “ajuda” do meu marido, e se ele não se oferecesse, eu tinha que fazer. Com isso eu ficava as vezes até as 21 horas sem comer e tomar banho. Eu odiava tudo isso.

Um dia explodiu.

"Desromantizem a “ajuda” do companheiro ou companheira. Ambos são pais. Ambos são responsáveis e ambos precisam cumprir a sua parte deste acordo."

E explodiu porque eu acreditei no que não existe. Não existe ajuda quando todos moram na mesma casa e contribuem para o sustento desta. Existe trabalho dividido e todos cumprindo com a sua obrigação.


Então se esqueça, por favor, desse conceito ultrapassado de que mãe é leoa, guerreira, suporta tudo, faz tudo. Você não precisa ser isso, em especial se não estiver sozinha nessa aventura. Delegue. Divida as tarefas. Crie uma estratégia de trabalho em equipe, porque é isso o que precisa acontecer.


Lembre-se: os primeiros dias são estranhos, os primeiros meses são confusos, os primeiros anos serão cheios de culpa, ninguém escapa disso. E você estará a vida inteira no ciclo de primeiro tudo. Mas não precisa ser só.


E se o que eu disse até aqui serviu para que você se identificasse, mas justificasse com um: ele/a sabe que estou cansada e ainda assim não faz, meu conselho é: fale.

Na minha casa só mudou quando eu explodi. Quando eu não suportei mais o que me tornava. Meu marido entendeu, nunca contestou, o peso passou, eu voltei a ser eu mesma e a vida de mãe ganhou outro significado. E só aconteceu porque eu falei, logo, eu fui a única culpada.


Desromantizar a maternidade não é endemoniar a outra parte. Sejamos justos, ninguém tem obrigação de saber o que você só pensa, quer e não fala. Se você quer mudança, fale. A conversa é sempre o melhor caminho, mas esse é um assunto para outro momento de desromantização.


Tatiana Amaral para. a coluna Maternidade

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