É linda a ideia de, depois de mortos, ainda podermos dar a vida! É até poético… Compactuo com essa teroria e, se minha “consciência” permitisse, doaria todos os meus órgãos. Mas tenho que fazer o meu sorriso amarelo, o mesmo que faço para a criança faminta no sinal de trânsito quando não lhe dou tostão: “sinto muito meu lindo, mas se eu te der dinheiro vou estar atrapalhando todo um sistema…” Mas que se dane! Dou o dinheiro mesmo assim! O dinheiro, porque os meus órgãos não dou de jeito nenhum! Podem me chamar de medrosa, não me importo… Eu gostaria de poder ajudar quando partir, mas… A verdade é que não confio no sistema de saúde do Brasil. Nem no sistema de saúde do Mundo. Tenho filhos pequenos para criar e marido para amar. Não vou arriscar uma “eutanásia” antes do tempo só porque minhas chances podem ser pequenas, e escutar, em um estado moribunda, de um “ético” médico: “afinal ela é doadora de órgãos, pode ser mais útil do lado de lá”. Quantas histórias existem de pessoas que, quiçá, poderiam ter sido salvas? E quantas existem e não sabemos? O fato é que, enquanto os corruptos estiverem roubando dinheiro da máquina, ao menos a minha máquina continuará aí, bem vivinha… Não temos a certeza de que atrocidades acontecerão, no caso de um acidente, mas tampouco temos a segurança de que o risco é mínimo. Declarar-se doador nos dias de hoje é um tiro em direção à salvação de uns, mas que pode facilmente sair “pela culatra”… Fui! (com todos os meus órgãos grudadinhos no meu corpo!)
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