Observando de longe o conflito que se passa no Afeganistão, vejo o olhar desesperançoso de quem busca sobreviver ao fardo de ter nascido mulher, em um lugar dominado pelo extremismo machista, que se esconde atrás da esfera religiosa.
Percebo que a dor delas resvala silenciosa em nossos corpos do Ocidente, em doses dramáticas de desesperança e medo. Tento fugir da reflexão de que elas representam um pouco de mim, em todo momento que têm sua liberdade ceifada e suas vidas ameaçadas; são elas, minhas irmãs de carma, ideologicamente castradas para viverem uma vida de desejos não-correspondidos e assédios morais mais violentos que seus piores pesadelos. São elas, as vozes que clamam pelo som dos seus direitos, todos negligenciados pela sociedade do lado de cá da razão democrática.
Escolho abrir meus ouvidos para escutar um pouco dos ecos que transbordam as preces feitas por mães desesperadas e sofro pensando nas meninas que se transformarão em mulheres nos braços de homens bárbaros e devotos de um Deus que só existe em suas mentes confusas e obcecadas. Fecho meus olhos e vejo suas súplicas se tornarem uma ameaça; e entendo, por fim, que essa guerra não é apenas sobre elas, é sobre todas nós, mulheres.
Porque nosso lugar no mundo deve ser respeitado, nossa dignidade deve ser soberana e nossas vidas, preservadas. Somos nós quem devemos defender as nossas companheiras de luta, nesta enorme caminhada chamada submissão; e somos nós, mulheres, quem devemos dar um basta à dor de nossas iguais, pois elas escondem em seu véu negro a vergonha de todas nós, que gozamos nossa liberdade em contraponto à escravidão de outras.
Não podemos mais tolerar que regras sejam impostas por homens desequilibrados e que mulheres sejam exploradas, machucadas e mortas. Precisamos nos unir como uma só nação feminina, que não aceitará os toques pecaminosos de tios perversos, os abusos de patrões assediadores ou mesmo, a ameaça iminente de soldados de um suposto Deus com suas metralhadoras em riste.
Fui! (Unir minha voz às delas…)