A economia prateada é a que junta renda, produção e consumo de produtos e serviços dos 50+. Um segmento econômico que movimenta R$ 2 trilhões ao ano só no Brasil, segundo a Data8, uma consultoria especializada em estudos e pesquisas sobre o comportamento e hábitos de consumo das pessoas maduras. Segundo a consultoria, a tendência é que o consumo na maturidade possa dobrar em poucos anos. Então, por que somos tão negligenciadas pelas marcas e empresas? Temos tido avanços nos últimos anos, mas é fato de que as empresas brasileiras ainda não estão preparadas para atender às nossas reais necessidades. A gente não encontra com facilidade produtos que atendam ao que realmente queremos, que dirá nos vermos representadas nas campanhas publicitárias!
Para Michelle Queiroz, fundadora da Rede Longevidade, ONG que produz conteúdos educativos sobre envelhecimento saudável, isso acontece porque o envelhecimento no Brasil ainda é novidade. “Comparado a países da Europa e Ásia, o Brasil está fazendo essa transição mais tarde na história. É normal que tenhamos mais dificuldades em compreender essa cultura, tanto no impacto econômico quanto social”. Realmente, há muitos anos vemos os grisalhos europeus com seus sapatinhos confortáveis, bermuda e chapeuzinho estilo safari, aquele espeto de ajudar em escalada, e muita disposição, saracoteando por todos os cantos do planeta. É diferente mesmo. Michelle destaca que o mundo inteiro vive uma revolução da longevidade, mas aqui no Brasil está mais impactante, com uma forte mudança na demografia, e inversão da pirâmide social.
A gente não encontra com facilidade produtos que atendam ao que realmente queremos, que dirá nos vermos representadas nas campanhas publicitárias!
"Hoje a gente fala como se fosse nicho, mas daqui a pouco todo mundo vai ter que ser meio especialista em economia prateada; se não, perde mercado. Eles já representam mais de 30% dos consumidores da base de clientes de todos os setores", corrobora Laila Vallias, da Data8. É isso aí: ano passado, o público 50+ foi o que mais cresceu no consumo de e-commerce. E os produtos mais vendidos não foram remédios e medicamentos, mas sim eletrônicos, com celulares e computadores nos primeiros itens da lista.
Me dá muita raiva quando vejo que algumas marcas acabam se apropriando da bandeira da longevidade saudável, antietarista, apenas para pontualmente se aproveitar de datas comemorativas, ou surfar na onda que vem valorizando a população madura, sem ter políticas efetivas de inclusão e destaque deste público. Chega o dia das mães, dia da mulher, e aparecem um monte de exemplos na mídia de mulheres maduras lindas e empoderadas, com as frases clichês de elogio de sempre. Fora destas datas, ficamos confinadas aos papéis de vovós acolhedoras e simpáticas, que fazem comidinhas gostosas. É uma imagem linda, quando eu for avó vou me identificar (tirando a parte de fazer comidinhas, sou uma negação na cozinha...) mas não dá pra generalizar no estereótipo, e nem pensar que o nosso interesse é restrito. Podemos ser vovozinhas fofas, boas cozinheiras, e termos uma coleção de NFTs. Podemos hospedar os netos no fim de semana, desde que não tenha uma festa dançante para irmos, ou uma viagem para os Lençóis Maranhenses. Podemos fazer tudo que a nossa condição física permita, e que o nosso coração deseje.
Fora destas datas, ficamos confinadas aos papéis de vovós acolhedoras e simpáticas, que fazem comidinhas gostosas.
Então, queridas empresas brasileiras, fica a dica: estamos na nossa melhor idade. Corram atrás de nós, se querem nos conquistar. Mandem flores, bombons, mas também nos respeitem e nos enxerguem como somos, potentes e plurais.
Ana Lucia Leitão para a coluna 50+
Encontre-a no Instagram: @aninhaleitao2