Ela pode tudo, só não sabe ainda. Ela pode andar pelos becos mais escuros e frios, e ainda assim encontrar a solução para os seus inúmeros problemas; pode experimentar os venenos mais cruéis e perigosos, que seu corpo se encarregará de eliminá-los somente com a vontade que ela tem de viver. Ela pode se lembrar dos desastres que superou ou pensar nos perigos iminentes que a cercam, que ainda estará segura dentro da sua esfera protetora chamada fé.
Ela pode tudo que quiser, só não percebeu ainda até onde suas mãos alcançam e a que distância seus pés conseguem chegar. Ela pode tudo, só não entendeu direito o que é mesmo esse “tudo”, que parece tão grande, mas que se esconde dentro dos arbustos da sua vaidade louca, aquela que insiste em desmerecer seu sorriso sincero, cada vez que encontra uma ruga no canto direito do seu rosto bonito.
Ela pode tudo, até virar poesia no meio de uma cidade cinza, cheia de pessoas egoístas e sentimentos diversos; cheia de amor escondido dentro de corpos enclausurados de medo… ela pode ver através do olhar dos seus amores, mas se esquece de contemplar a beleza que é a vida vista de outro ângulo, porque geralmente está ocupada com o horário ou com o novo modismo da estação.
Ela pode tudo, só não consegue decifrar a importância de poder tanto, em meio ao caos da sua pacata vida, em meio aos dramas que acometem os mártires das suas vinganças cotidianas e da sua saliva pesada, que deságua contratempos e discórdias em momentos de alegria genuína.
Ela pode tudo, mas não pode saber disso. Ela poderia tornar-se absoluta demais e se esquecer da sua verdadeira essência, aquela que planeja algo mais simples e bem menos importante que a soberba que a acompanha. Ela pode tudo, mas não sabe disso. Ainda bem…
Fui! (Silenciar o que sei e agradecer pela sua ignorância…)