Elas podem tudo, só não sabiam antes…
Elas caminharam durante muito tempo tentando conviver com o fardo de cuidar, amar e ser útil aos que delas precisassem; elas tentaram aprender o idioma arcaico do sucesso e vasculharam formas para se adaptar a um padrão que lhes foi imposto desde sempre; que permeou todas as gerações de suas ancestrais e que as escravizou em um sistema ambíguo, espremido entre as sensações de culpa e devoção.
Elas foram além e brigaram por direitos que nem sabiam ao certo se vestiriam seus corpos com o mesmo caimento que serviam a seus eufóricos senhores; fugiram para onde podiam e pariram o fruto de um amor que era dos dois, mas cujos cuidados terminavam somente em suas delicadas mãos.
Emprestaram seus corpos para o prazer fugaz e momentâneo de orgasmos relaxantes e em compassos de renovação de votos, para preservar o pouco que as detinha em esperanças fortuitas de manterem a sua virtude ou, ao menos, a sua vida.
Elas pediram perdão por crimes que não cometeram e esqueceram de cobrar pelos machucados que angariaram pelo caminho de sua tortuosa estrada.
Elas se esqueceram que podiam, se esqueceram de quem eram.
E por muito tempo, elas acharam que não podiam quase nada. Mas isso mudou quando o mundo que conhecemos começou a desmoronar, quando as barreiras impostas foram derrubadas e quando algumas delas alcançaram um lugar de destaque no centro do poder dos homens. Muitos deles se curvaram, alguns questionaram e outros as mataram.
Mas elas não vão parar, afinal, elas podem tudo e agora já sabem disso.
Fui! (Juntar-me a elas…)