Estou indo embora… para onde? Não sei, não faço a menor idéia. Mas vou buscar algo novo, um “eu” novo; um alguém que eu ainda não tenha cansado de ver no reflexo do espelho da nossa casa. Talvez o problema não esteja realmente no reflexo, mas no espelho em si. No espelho grande da casa igualmente grande que comporta todas as minhas alegrias e todos os meus mais sofridos lamentos. Da casa que me custou cada segundo dos meus dias nublados e sem expectativas. Desta casa enorme que agora parece tão pequena para os sonhos que carrego…
Levo na minha bagagem nosso filho, um pedacinho de nós e de tudo que esteve guardado nesse templo sagrado das nossas vidas. Mas não se preocupe, eu vou dividi-lo com você. Dividirei a nossa criação e as nossas mais doces lembranças. Levarei a vida bela que tive ao seu lado por tanto tempo, mesmo quando nossos corpos diziam o oposto das nossas declarações de amor. Levarei você também, em frases e olhares, em momentos que me fizeram tão bem, por tanto tempo…
Me desculpe deixá-lo assim, sem perspectiva ou conclusão. Mas sou eu, em uma versão nova que deve sair da sua vida e entrar de cabeça em uma estrada cheia de possibilidades. Te deixo um beijo e minha gratidão por ter sido meu companheiro até nas horas em que eu mesma não me aguentava.
Peço aos Deuses que cuidem de você, que te ajudem a achar seus pares de meias soltos pela imensidão dessa casa, que te ajudem a temperar a sua comida e que te façam companhia até que outra pessoa ocupe o meu precioso lugar.
Entenda que eu não desejo o seu mal, ao contrário desejo a sua liberdade em tudo que se refere à mim: ao meu jeito, meu cheiro e minha vaidade insana. Desejo a redenção dos seus pecados mais fúteis cometidos durante o percurso do nosso casamento e a sua concessão para a minha escolha mais absurda: viver longe de você.
Agora eu vou, me desculpe, estou de saída…
Fui! (Viver um novo casamento comigo mesma…)