Vivemos em uma nova era. Isso todos já sabem; o que todos parecem ainda não saber é como conviver socialmente neste novo mundo, repleto de tentações a cada novo dia, a cada novo post…
Somos reféns do nosso ego, que por vezes vence a guerra entre “devo” e “quero”, em consonância com o “penso, logo digito”. E é nesta toada que segue a boiada, sempre apoiada na temática da própria ciência, alicerçada nos pilares do que ingeriu nos últimos 5 minutos de aprendizado digital. Porque, segundo Karnal, o conhecimento atual não chega a ser conhecimento, mas pura e simples informação agregada; junto-me a ele para acrescentar que a “digestão” desta informação também não é mais necessária, ou eficaz, pois as conclusões são igualmente absorvidas por nossos telespectadores virtuais, perfazendo o mesmo caminho midiático que a televisão ocupava nas mentes dos aspirantes à cultura itinerante.
Ainda sob a édige do ego, temos a figura dos novos talentos influenciadores, aqueles que não caminharam nem um décimo do caminho dos que os seguem, mas que foram eleitos dignos de minutos devotados em prol de sua rotina alimentar, de exercícios, ou mesmo de filosofias torpes e inconsistentes sobre o segredo do sucesso, no caso, do seu próprio.
São armadilhas poderosas que nos roubam a atenção, efeitos pobres de edição de textos e memes pouco engraçados fazem parte da nossa busca desenfreada por distração, em meio a tantas opções menos agradáveis, que servem de consolo mental ver tais exemplares da natureza tentando transmitir sua imagem bonita, por vezes engraçada, mas sempre consciente neste mundão de Deus, que esquecemo-nos por vezes dos conselhos dos nossos avós, que visavam alertar-nos sobre a vida que realmente vale à pena. Claro, nossos avós não viveram nesta época, e os que ainda estão entre nós apenas tentam sobreviver à ela.
Mas, se analisarmos mais de perto perceberemos que existem semelhanças entre o mundo antigo e o novo, afinal, nossa maior aflição ainda está em sermos aceitos pelo outro, ainda que o outro seja um alguém totalmente incompatível com as suas crenças e valores. Então, seguimos com este ideal, abrindo caminho para o novo comportamento, que não mede esforços para convencer ser bom aquilo que jamais usaremos de fato no nosso dia-a-dia. Porque “aquilo” faz parte da vida de outra pessoa e jamais servirá em nosso corpo, pois jamais seremos “tamanho 36″…
E quando nos perdemos no universo infinito da vida deles acabamos encontrando, por vezes, algumas sábias escorregadas e desvios providenciais, como a festa que uma linda e magra influencer compartilhou em suas redes sociais. Deparamo-nos com um império de marcas que deixaram de patrocinar a vida plena da menina bonita e lemos uma enxurrada de críticas à conduta nada ilibada da moça que desrespeitou um dos códigos civis mais importantes: a empatia ao próximo.
E no enredo deste filme, que mais poderia ser uma comédia da vida real, encontramos razão nas palavras da vovó, que nos dizia em português claro e arcaico: “tome cuidado com quem você escolhe para idolatrar, pois quando eles escorregarem e caírem em seu próprio ego, você verá que as pessoas são apenas humanos tentando resolver seus problemas neste mundo, assim como eu e você”.
Então, ao caminharmos nesta estrada rumo ao aprendizado digital, que promove a busca de seguidores, ampliação de tráfego e leads, conversões do seu produto, serviço ou, em última instância, da sua proposta, temos que entender que não se trata deles, influencers ou marcas, mas de nós, consumidores deles, que temos que entender sua importância e seu valor na nossa vida; e, quase sem querer, devemos parar de aplaudi-los sem motivo aparente e só “consumi-los” quando os pudermos digerir adequadamente, como um livro que optamos ler porque nos fala algo com significado e toca nossa alma de verdade.
Cris Coelho