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Facefútil


É incrível como algumas coisas incrivelmente banais se tornam tão essenciais para a nossa rotina ficar “colorida”. É assim quando utilizamos a ferramenta do Facebook para nos relacionarmos. Muito mais do que uma ferramenta de relacionamento, credito no Face uma funcionalidade primordial que é a “Terapia On-line”. As pessoas descarregam suas emoções ali, nesse “cyber-espacinho” que é todo delas, igualzinho a uma sala de consultório de um pscicanalista, só que com uma platéia oculta. Dramas cotidianos como a frustação pessoal de ter sido traído são traduzidos em formas codificadas e, ao mesmo tempo, escancaradamente reveladas pelos habituais amigos que já entenderam o final do filme logo no início. Também existem as auto-afirmações, com mensagens do que é politicamente certo de que se goste, ou, ao menos do que nós gostaríamos que nos fosse associado… A amizade nunca foi tão fácil de se conduzir e os antigos desafetos até se esquecem do motivo da briga… O mais curioso, eu diria, é que o Facebook tem um lado “Facefútil” que atrai 98% dos usuários da rede (98 porque os outros 2% provavelmente estão viajando de férias e se desconectaram provisoriamente da rede!). O “Facefútil” atrai os olhares famintos por diversão, e atua como um entorpecente alucinógeno que mantêm a nossa realidade “Matrix”, enquanto vemos um Mundo de verdade cair aos pedaços em forma de assassinatos, enchentes, degradação do meio ambiente, do ser humano, da vida. A realidade nua e crua já recebemos em todos os meios disponíveis e, mesmo que tentemos fugir, a notícia catástrofe sempre nos pega ali na esquina, de alguma forma. O único dispositivo saudável para a nossa, já tão bombardeada mente e refúgio da miséria do nosso “Mundo Real”, se torna mesmo a rede… O Facebook é assim, um “Mundo de Alice” onde é possível experimentar a sensação de viver intensamente as mensagens otimistas dos antigos livrinhos de bolso, gritar com letras garrafais a loucura que é amar sem sentir-se envergonhado, onde é possível demonstrar felicidade sem se importar com o efeito devastador que a inveja dos “amigos não-verdadeiros” vai ter na sua vida (afinal você não vê quem está recebendo a informação e até se esquece de quem colocou na sua rede de contatos!), e é também um lugar onde podemos ser exatamente o que todos esperam de nós: uma pessoa gentil, doce e ainda por cima, sociável. Mas o melhor mesmo, é que podemos nos deliciar com a incrível capacidade do ser humano de encher o “espaço virtual compartilhado” de fatos cotidianos irresistivelmente… Fúteis! Viva o “Facefútil”!

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