Quem quer ser feliz levanta a mão!
Tenho certeza que ninguém deixaria de levantar, afinal, a felicidade é uma busca incessante de todos nós. Por mais subjetiva que seja essa definição, todo mundo quer ser feliz, concorda?
Agora, e quando o assunto é felicidade no trabalho? Não se surpreenda com a pergunta. A felicidade no trabalho existe e cada vez mais tem sido explorada na agenda estratégica das empresas.
É notório, para quem atua no ambiente corporativo, que o tema da felicidade no trabalho há 20, 10 ou mesmo 5 anos tinha pouca ênfase ou até era relegado. Algumas pautas relacionadas, como “clima organizacional”, “ambiência interna”, “comprometimento”, “nível de engajamento”, até faziam parte do vocabulário corporativo, mas nunca foram foco estratégico, como a felicidade do trabalho vem se tornando agora. O tema agora está chegando até no “cafezinho” das organizações e uma nova função – Chief Happiness Officer – começa a despontar como profissão em alta no pós-pandemia[1].
Não só as pesquisas acadêmicas e de consultorias especializadas têm impulsionado um novo olhar sobre o tema, pelos resultados concretos que vêm evidenciando no desempenho individual e coletivo quando as pessoas estão felizes. O próprio contexto de pandemia impulsionou uma forte reflexão, uma vez que as pessoas foram impactadas em suas rotinas, em sua segurança e em sua rede afetiva, com a perda de entes queridos, e a saúde emocional assumiu maior relevância nesse cenário, colocando a relação com o trabalho em xeque.
Há algum tempo li um livro que descortinou esse tema para mim: “O jeito Harvard de ser feliz”, de Shawn Achor, que recomendo. O autor estuda o que ele chama de “benefício da felicidade no trabalho” e afirma, a partir de estudos científicos, que a felicidade leva ao sucesso em praticamente todos os âmbitos da nossa vida: casamento, saúde, amizade, sociabilidade, criatividade, energia e, em particular, emprego, carreira e negócios.
Sim, felicidade leva ao sucesso na carreira. Aquele conselho que certamente você já ouviu sobre fazer o que ama não é sem fundamento. Nem sempre é possível convergir trabalho e interesses na plenitude, mas à medida que aproximamos os dois, aumentamos nossa chance de sucesso, já que fazer o que amamos nos torna mais felizes. Segundo o autor, assumimos uma atitude positiva quando estamos felizes, ficamos mais motivados e, consequentemente, alcançamos mais sucesso.
Portanto, aquela lenda de que seremos felizes quando tivermos sucesso na carreira é uma grande distorção. Ser feliz é o caminho que nos leva ao sucesso na carreira. O sucesso orbita em torno da felicidade.
Trazendo números para a nossa reflexão, Jessica Pryce-Jones, no livro “Happiness at work”, revela que os colaboradores mais felizes são 47% mais produtivos, 75% menos ausentes por doenças, 180% mais dispostos, 108% mais engajados, 82% mais satisfeitos com o trabalho e 28% mais respeitosos com seus colegas.
Imagina esse efeito coletivo! Portanto, se preocupar com a felicidade dos colaboradores não é filantropia ou assistência social, é uma estratégia de negócios. A felicidade eleva a performance individual, e ao convergir com um propósito compartilhado, naturalmente impulsiona o resultado coletivo.
Mas como ser feliz no trabalho? Tem alguma forma de impulsionar? Bem, ainda há muito o que aprofundar, já que o tema é tão recente, e também depende muito do estágio de maturidade das organizações nessa evolução, mas algumas conclusões já podem nortear mudanças significativas na estratégia de gestão das empresas, como as dos estudos da Universidade de Berkeley, reconhecida pelas pesquisas nesta área.
A Universidade de Berkeley sintetizou em quatro os pilares principais da felicidade no trabalho: Propósito, Engajamento, Resiliência e Gentileza. Esses pilares deveriam ser fortalecidos, nos níveis sociais e corporativos, para impulsionar a felicidade no trabalho.
Assim, iniciativas que envolvam o fortalecimento da cultura organizacional e do compartilhamento do propósito, transformação do estilo de liderança, desenvolvimento de habilidades sociais, incentivo à geração de ideias, permeando toda a organização, favorecem um ambiente colaborativo, de pertencimento e bem-estar. Por que não dizer, um ambiente de felicidade?
Ninguém é ingênuo para pensar que só o ambiente é suficiente. A pesquisa da ONU sobre o assunto, consolidada no Relatório Mundial de Felicidade, publicado anualmente, que inclui um ranking de felicidade envolvendo mais de 150 países, sinaliza que a percepção de felicidade está fortemente ancorada em fatores como renda, saúde e ter com quem contar.
Portanto, se as necessidades de renda e saúde não estiverem atendidas, este tripé da felicidade não se sustenta, como já defendia Maslow, com sua pirâmide de necessidades: se as necessidades básicas não estão atendidas, a gente não consegue avançar para os patamares sociais e de autorrealização.
No entanto, uma mensagem importante é que, apesar de, em geral, as pessoas associarem a felicidade no trabalho a remunerações, benefícios, promoções e símbolos de status, as pesquisas acadêmicas sobre felicidade no trabalho evidenciam que seu impulsionamento está mais fortemente associado a fatores emocionais.
Isso nos traz um alerta importante: embora, em geral nas organizações, os gestores não possam gerenciar salários e benefícios, é deles a maior contribuição para desenvolver o ambiente colaborativo desejado, que incentiva as trocas de ideias e questionamentos, que conecta as pessoas para o pensamento conjunto e inovador, que evidencia o cuidado com as pessoas na própria forma de se comunicar e encorajar a autonomia. Criar um ambiente de confiança é essencial para o engajamento das pessoas. Isso não é papel do RH, é papel do líder.
Por outro lado, não é papel só do líder. Uma andorinha não faz verão sozinha. Felicidade no trabalho é um efeito coletivo que se ancora também em pequenas ações individuais, como o cuidado na comunicação, a gentileza, o apoio mútuo, o senso de dono. E isto é papel de cada um.
Se cada um fizer sua parte na construção de um ambiente de felicidade, nos pequenos gestos do dia a dia, o efeito multiplicador se torna incalculável. Vamos juntos promover essa transformação, cuidando dos tijolos que nós temos que depositar nesta construção? Isso é bom pra você, para sua empresa e para sua família.
Érica Saião para a coluna Carreira
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* Levantamento realizado pela Luandre, empresa de consultoria em RH (2020)