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Figura de Linguagem



O fim do ano chegou! E junto com ele, a correria para esvaziar os “potes” de promessas feitas no final do ano anterior e enchê-los novamente com novas metas. Cada um tem seu próprio pote, e hoje quero convidá-los a olhar para dentro do pote da ESCOLA! Últimas provas, professores correndo para deixar seus diários em dia, rematrículas, formaturas, festa de final de ano e alunos estudando. O quê? Alunos estudando?


Pois é, os alunos que neste momento estão estudando e correndo atras de seus mestres são justamente aquela maioria que durante o ano inteiro esteve na contramão e agora, aos 45 do segundo tempo, resolveu se preocupar. Contarão com a sorte, já que este ano temos Copa do Mundo, beirando o final do ano letivo! Bora lá! Mão no peito, hino decorado e a famosa promessa de alunos enquanto suplicam nota para seus professores: ano que vem será diferente!


No meu tempo, pois é, fiz 52 anos há algumas semanas, não tinha promessa que desse jeito. Alguns professores deixavam claro durante todo o ano letivo que não seria “dado” nenhum centésimo. Você tinha que conseguir sozinho e ponto. Hoje, felizmente, temos professores mais flexíveis, que ouvem os alunos e compreendem suas dificuldades, julgando cada caso de forma mais justa. Mas não são todos os estudantes que estão interessados em justiça, e acabam se aproveitando da boa vontade dos profissionais para passar o ano sem cumprir suas obrigações na espera por aqueles pontinhos no final do semestre.


Na edição passada, falei de como fui considerada um caso perdido no quesito de notas quando ainda era uma estudante do “ginásio” e como isso assombrou minha vida, fazendo-me sentir incapaz de aprender todos aqueles cálculos. Mas eu tinha uma vontade tão grande de vencer e, por isso, não desisti de tentar. A escola ia ficando vazia no final do ano e lá estava eu, ainda com meu uniforme, tentando compreender todas aquelas equações exponenciais. Hoje, vejo que muitos alunos ainda passam por isso, mas, na maioria dos casos, as barreiras que eles enfrentam vêm diagnosticadas: TDH, TDHA, dislexia, afasia e tantas outras. O que me preocupa mesmo é que, tendo ou não um fator que dificulte o desenvolvimento do estudante, ele não pode utilizar isso como uma barreira para conquistar seu objetivo, não pode somente querer avançar para o próximo nível escolar sem ter ideia do que isso de fato significa.


Como o Gato Cheshire diz à Alice: “Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve”. Neste caso, percebo que os alunos têm encarado o avanço escolar como uma nova fase do vídeo game e sou incansável em dizer a eles e também aos seus responsáveis que é preciso fazer mais. Meter a cara nos livros, transcrever a matéria para o caderno e de fato prestar atenção ao que o professor diz na aula. Para um bom educador, o problema não é o aluno não saber, o problema é o aluno não querer saber e ainda exigir que seja promovido sem o mínimo de esforço.


Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.

Ainda dentro da escola, não se esqueça de dar uma espiada pela janela da sala onde acontece o conselho de classe. A tensão é quase palpável, como em um julgamento. Os professores têm muitas “provas”, ou melhor, “evidências” de que certos alunos de fato não demonstraram esforço algum nem assimilaram o suficiente para passar para a próxima fase, mas quem ali tem coragem de reprovar um aluno sabendo que daqui a pouco seus responsáveis dirão, aos berros, que ele ficará traumatizado pelo resto da vida? E o que significa o resto da vida de quem tem os seus 17 ou 18 anos?


E caso não tenha sido clara, o que quero dizer é que as muletas não podem limitar seu caminhar, elas servem justamente para auxiliar o individuo a manter-se de pé e continuar a buscar seus objetivos, e sem conhecimento, tudo fica mais difícil.


Sonho com um país que não se una apenas de 4 em 4 anos, buscando por mais uma estrela, mas que se esmere em oferecer uma educação de qualidade, com professores bem remunerados e que todos que atinjam a próxima etapa por mérito e não por piedade! Ainda me lembro da declaração “fenomenal” dita em 2011: que uma Copa do Mundo não se faz com hospitais e que havia muito dinheiro sendo gasto em segurança e saúde. Ual! E vejam só, nem falamos sobre educação! Deve ser porque o dinheiro gasto com a educação não faz nem cócegas.


Então, creio que antes de espiarmos por outras janelas, devemos pensar em resgatar nossos filhos, sobrinhos, irmãos, vizinhos, pois estão com muitas janelas abertas em seus smartphones, espiando um mundo onde acham que tudo será colorido e antes que abram a porta e caminhe pela estrada de tijolos amarelos sejam despertados pelo sinal da escola que os chamam a verdadeiramente aprender e vislumbrarem com um futuro mais seguro, pois as frustrações de qualquer jeito virão.


Ismênia Ribeiro para a coluna Sociedade

Encontre-a no Instagram: @direcionar.educa


Woo-woo Woo-woo Woo-woo , onomatópeia? Também, mas no caso é o sinal da escola tocando para o início da aula de recuperação final. Boa sorte!




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