Por favor, convide meu filho gêmeo e não chame seu irmão gêmeo! Entenda que meu filho precisa disto, precisa crescer de forma independente do seu “complemento”. Ele precisa experimentar coisas, provar o sabor de se aventurar, de entender a difícil arte que é manter o interesse de um amigo no seu universo próprio.
Sim, meu filho precisa sair da sombra do irmão, desta sombra que é ao mesmo tempo limitante e outras vezes reconfortante. Ele precisa ser autossuficiente , seja lá o que isto signifique… meu filho precisa crescer, precisa encontrar a si próprio em meio a tantas referências que o levam até seu gêmeo. Meu filho precisar mais existir do que “coexistir” dentro deste universo gemelar em que ele estreiou na data da sua concepção.
Meu filho precisa sentir o prazer que é ser convidado para algo que só pertença a ele; ele precisa disto, precisa sentir como se fosse um filho único, algumas vezes, e precisa se sentir indefeso, frágil e incompleto, para conseguir se reinventar forte, completo e único.
Meu filho precisa, até mesmo, sentir a falta do irmão para validar a sua importância no seu leito encoberto de significados, em um quarto com uma beliche desfalcada de um outro ser parecido com ele…
Meu filho precisa tanto, tanto ir a esta festa sozinho, da mesma forma que seu irmão precisa não ser convidado. Ele precisa do cortejo e o outro do descaso, assim como ambos precisam do oposto, toda vez em que a vida os agraciar com a oportunidade de serem os únicos convidados para uma festa nem tão importante assim, mas decisiva para o seu crescimento social.
Então, de novo, se estiver pensando em chamar meu outro filho gêmeo para a festa do seu filho, só pelo fato dele ser gêmeo, não o faça. Não impeça que ambos desfrutem da alegria e da angústia dos convites e desconvites que a vida os entregará para esta e todas as outras festas que eles terão pela frente. Porque meus filhos precisam das festas tanto quanto precisam de um tempo um do outro…
Cris Coelho para a coluna Maternidade