Você já deve ter exposto uma ideia, super empolgado, e ouviu de alguém aquela frase que foi um balde de água fria na sua motivação: “já tentamos isso e não deu certo.”
Quem trabalha com inovação e processos de mudança sabe bem do que eu estou falando... E no fundo, se você fizer uma reflexão pra valer, talvez perceba que também já disse isso em algum momento.
Tudo bem dizer que já se tentou, só não podemos concluir que não vai dar certo dessa vez. Como disse o filósofo Heráclito, há cerca de 2.500 anos (isso mesmo, ele já dizia isso no século V a.C.!), “ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas e o próprio ser já se modificou.” As coisas mudam. Mesmo que seja imperceptível, o fluxo continua.
Eu mesma já participei de projetos que não se mostraram viáveis em determinada época, mas se viabilizaram anos depois. Também já vi projetos que faziam sentido em determinado momento, mas deixaram de fazer. Às vezes, o ambiente competitivo não é favorável, a organização tem outras prioridades estratégicas, ou não reúne as competências para fazer com probabilidade de resultados promissores. Ou a projeção de demanda não viabiliza o retorno. Enfim, estas são só algumas das muitas variáveis que envolvem a decisão sobre a viabilidade de uma iniciativa, e que possibilitam que o conjunto se altere no cenário temporal.
“Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas e o próprio ser já se modificou.” (Heráclito, filósofo, V a.C.)
O que não é viável hoje, pode ser no futuro, porque o mercado continua mudando, assim como as organizações, que podem estar mais ou menos inclinadas a assumir riscos, a potencializar oportunidades, a neutralizar ineficiências, a desenvolver novas plataformas de crescimento. Como refletiu Heráclito, as águas do rio fluem, assim como o ambiente de mercado continua se renovando, e a pessoa também já não é a mesma, tampouco a organização neste contexto.
Definitivamente, o rio não é o mesmo. Nem você. Sua forma de pensar está (ou deveria estar) em constante evolução, abrindo janelas para enxergar de forma mais ampla. Por isso, olhar para a experiência vivida é importante, mas não como uma barreira, e sim para internalizar as lições aprendidas. É sobre “já tentamos isso e esbarramos nestas condições...” e não “já tentamos isso e não dá certo”. A primeira frase é para trazer a experiência para a mesa e somar aprendizados, a segunda, soa como resistência.
E não pense que isso não acontece na sua empresa. John Paul Kotter, um dos maiores especialistas em mudança da atualidade, professor emérito da Harvard Business School, destaca a resistência à mudança como um desafio bastante comum às organizações. E quer saber o mais curioso? É que muitas vezes as pessoas sequer percebem que estão no grupo de resistência, pois a resistência pode ser inconsciente. E mais: embora haja uma tendência de achar que a resistência é um fenômeno massificado, de fato, o entendimento é que a resistência não é uniforme e varia de indivíduo para indivíduo de acordo com a fase do processo de mudança e com a experiência pessoal.
Mudar incomoda e dá trabalho. Já começa por aí. E nosso modelo mental é inclinado a captar seletivamente aquilo que reforça o que sabemos. Então, inconscientemente, a gente já resiste ao desconhecido.
Por isso, é essencial garantir uma comunicação clara e contínua, antecipando-se na transmissão das informações para evitar surpresas e reforçar o propósito da mudança, além de criar espaços para comunicação aberta, abordando dúvidas e preocupações com transparência. Qualquer processo de mudança exige tempo, persistência e resiliência. É como "água mole em pedra dura", precisa de constância e consistência.
É igualmente importante oferecer treinamento e suporte para que todos se sintam seguros com o novo processo, revisar e adaptar fluxos, sistemas e estruturas para eliminar obstáculos e facilitar a implementação da mudança. Também não se pode perder de vista o valor de reconhecer e celebrar pequenos avanços, para tornar visíveis os progressos intangíveis e renovar a energia e o compromisso com o processo.
Qualquer processo de mudança exige tempo, persistência e resiliência. É como “água mole em pedra dura”, precisa de constância e consistência.
Não há caminho fácil para a mudança, mas esse caminho pode se tornar melhor se a gente participa, engaja e vai com todo mundo junto. Vamos juntos?
Érica Saião para a coluna Mulher & Carreira
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