O dia que eu subi em um palco pela primeira vez para dar a minha primeira palestra. Dia em que eu quebrei um tabu e me dei conta de quantas coisas eu já fiz na vida e quantas coisas eu ainda posso fazer. Quando recebi o convite passei noites sem dormir. Me dei conta de como as nossas escolhas pessoais influenciam nas nossas escolhas profissionais e vice-versa. E assim, coloquei em uma apresentação, em diversos slides, a minha história, o meu currículo, a minha biografia. Tudo junto.
Quem eu era, quem sou hoje. Misturei minha história pessoal com minha história profissional, afinal, no final das contas as coisas se misturam. Uma é consequência da outra. Escolhas pessoais influenciam nossas escolhas profissionais e vice-versa.
Minha mãe me disse recentemente que sempre achou que quando eu crescesse iria me tornar uma grande executiva, uma CEO. Mas, contrariando as expectativas dela, aos 30 anos resolvi dar um tempo na vida profissional e resolvi casar e ter filhos! E mesmo eu engravidando muito rápido e com o privilégio de não precisar me preocupar com salário, meu ex-marido garantiria o nosso sustento, eu não me sentia muito confortável no papel de mãe e dona de casa, esposa. Ficava inquieta. Queria fazer mais. Estudar, aprender. Trabalhar de uma outra forma. Foi então que eu descobri o trabalho com propósito. Já que o trabalho iria tirar o precioso tempo com os meus filhos, que fosse para criar um mundo melhor para eles. E foi assim que eu descobri o meu propósito de vida: usar a minha criatividade para impactar os outros, impactar o mundo. Virei mãe e me transformei em uma profissional melhor. Durante 10 anos tive o privilégio e a sabedoria de trabalhar com a minha paixão ao lado dos meus filhos.
Meu home já era office muito antes da pandemia. Estava ao lado dos meus filhos e na frente do computador. Eles cresciam e eu também! Foi uma fase de muitos aprendizados. Eles cresceram, eu me separei e achei que estava na hora de voltar a trabalhar fora de casa. Ir para um escritório, conhecer gente, colocar todas as minhas habilidades em prática e quem sabe mostrar que minha mãe estava certa: me tornaria uma executiva. Ha ha ha.
Voltar ao “mercado” depois de 10 anos, separada, com 3 filhos não é um job fácil. Mas para uma mãe de 3 nada é impossível! Afinal, tenho 3 bocas, 4 contando com a minha, para alimentar. E como mãe de 3, e uma pessoa com apenas duas mãos, a gente aprende a se virar e criamos tentáculos, como um polvo, e multiplicamos o dom que as mulheres já têm de fazer mil coisas ao mesmo tempo. Trabalhar e ser mãe nos deixam mais jovens, mais felizes, mais completas, mais eficientes. Pelo menos é como eu me sinto e como quero que meus filhos me enxerguem.
Hoje vejo muitas mulheres da minha idade que não tiveram este privilégio de curtir seus filhos pequenos trabalhando de casa, exaustas. Largando altos cargos para voltar para casa mais cedo. Eu fiz um caminho diferente e este caminho me abriu muitas portas e me levou para este palco e pude contar a minha história com um microfone na mão e um passador de slides! Como criativa e publicitária sempre estive do outro lado. Na concepção do projeto, na platéia, no roteiro, produção, execução, direção. Mas nunca na frente de todos.
A quantidade de floral de bach que tomei antes de palestrar deve ter me ajudado
(rescue #ficaadica) mas confesso que achei bem legal compartilhar a minha história e minha missão de usar a criatividade e as boas ideias para fazer um mundo melhor! Por isso, meu trabalho hoje é criar.
Criar meus filhos, criar ideias, parcerias, amizades, histórias, conexões.
E a satisfação de conseguir fazer algo que eu sempre tive medo, me expor, e contar a minha história publicamente foi sensacional. Um divisor de águas, como ser mãe. Tem uma frase que eu adoro que diz: Se estiver com medo, vai com medo mesmo.
E eu fui. E eu consegui! E eu me diverti!
E me dei conta de que a minha mãe tinha razão. Eu já sou uma CEO.
CEO da minha vida.
Fotografia de Osvaldo Furiatto
Marcela Pagano para a coluna Desabafo de Mãe
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