Ser mãe nunca é fácil. Vocês podem romantizar, se quiserem. Mas para quem escolhe ter filhos e ser presente, ser presença visceral, mão na massa, dia a dia, a realidade quase nunca é simples.
Meu primeiro susto veio logo no puerpério: por que ninguém me avisou que seria tão difícil?
Há quase 30 anos a maternidade ainda era coberta por um véu santificado e idealizado, onde tudo seria um idílio infinito. E quando não era? A gente sofria horrores, em silêncio, achando que o problema era só nosso, que éramos falhas e imperfeitas.
Uma vez atravessados os anos da infância, quando construímos as bases do vínculo, nos deparamos com os desafios de criar adolescentes. Nosso espaço e influência na vida dos filhos diminuiu, o mundo deles se amplia e seguimos margeando, contornando, apoiando o que for necessário e possível.
E um dia eles crescem. Tornam-se adultos, saem de casa, mudam-se para longe.
E agora? O que fazemos com nossa enorme capacidade de amar e cuidar no cotidiano, quando não estamos perto? Não dá mais para fazer aquela gentileza, aquele agrado, aquele mimo. Os encontros se tornam preciosos, mas nunca, nem de longe, preenchem o vazio que essa separação deixou.
E a gente não fala sobre isso, porque entregar os filhos ao mundo é nossa missão primordial como mães. Fizemos o melhor possível, dedicação intensiva e intensa, justamente para que eles não precisem mais de nós todos os dias. Para que possam seguir levando dentro deles o cuidado de mãe introjetado. Que se lembrem de escovar os dentes e passar protetor solar. Que evitem pessoas tóxicas e riscos desnecessários. Que sejam sérios, comprometidos e responsáveis. Que sejam gentis e respeitosos com todos. Que aproveitem o bom da vida.
A gente ensina, repete, insiste e depois apenas confia.
Vai, filho, vai ser feliz onde o vento te levar. Vai, filho, vai seguir seu destino, seu rumo, seus sonhos.
Vai, filho, vai brilhar onde sentir o chamado da sua alma.
A mamãe fica aqui, nos bastidores do seu caminho, na primeira fila da torcida, sempre pronta a correr para o abraço.
A mamãe inventa novos projetos, novos vínculos, novos desafios. Tem uma vida plena de afetos e propósito.
Mas lá, no cantinho escondido do coração, habita uma saudade imensa que em certos dias transborda pelos olhos, turva a vista, torna as horas mais longas.
Então a gente escreve, faz contato, planeja visitas, encurta distâncias como puder.
E segue.
Porque esse é o fluxo natural da vida. E quem somos nós para atrapalhar?
Adriana Moretta especialmente para o Mês das Mães
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