Depois de tanto tempo percebi que nunca seria perfeita. Percebi também que meus desejos eram mais estranhos que os dos outros e que eu era, sem dúvidas, um alguém muito incomum. Percebi que meus sonhos não traduziam a verdade que os fiéis acreditavam, que meu caminho era torto e com menos brilho que o engomado perfeito do cabelo do meu meio-irmão mais amado e admirado.
Sempre fugi dos esteriótipos e posso admitir, ainda que com alguma culpa, que fiz por merecer a desaprovação da minha avó paterna, aquela que gostava mais das bonecas dela da infância do que da neta que escolheu pintar a pele e o cabelo para se sujar na imundice desse mundo enorme...
Busquei meus melhores amigos em becos escuros, respirei o ar poluído da fumaça deles, e, mesmo sem querer, acabei cedendo à tentação que é absorver angústias e alegrias na forma de tragadas. Fingi não gostar tanto do gosto amargo do álcool que insistia em terminar na palma das minhas mãos, a hora que fosse, nas circunstâncias que fossem...
Que tola fui eu, quando pensei que jamais deixaria de brincar de me rebelar, ao som daquelas canções com o agudo da guitarra ou a voz rouca de um cabeludo qualquer! Fui parar justamente na casa da minha tia, comendo nos pratos rebuscados da vovó e relembrando as frases de efeitos que minha mãe falava ao sair do banho... logo eu, que julgava-me blindada para eventos natalinos, que estimulam a cafonice das tradições familiares mais enjoadas, acabei ajudando minha sobrinha a terminar de montar sua árvore de Natal.
E o mais incrível desta história toda? Eu gostei...
Fui! ( comemorar o Natal ao lado dos meus amores...)