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Meu PAI DIF=R=NT= :-)

No livro da minha história de vida, vi os registros do meu pai. Sempre soube que ele era diferente, meio afeminado, meio delicado, meio distante da realidade sufocante do conluio dos pais do meu colégio.


Sempre percebi sua falta de habilidade para embarcar nas conversas essencialmente fúteis dos outros pais, sempre muito preocupados com o jogador de ponta direita que limitava os passos do atacante, ou com o grau exato em que a cerveja estaria boa para ser degustada, entre os palavreados de baixo calão, quando o nível do futebol atingia a dramaticidade pleiteada pela torcida entusiasmada.


Sabia que meu velho não era parecido com os melhores pais, aqueles que ostentavam marcas poderosas no corpo e no asfalto; meu pai ostentava o olhar artístico que encontrava beleza em peças recicladas ou que haviam sido presenteadas por um alguém especial. Meu pai não era, nem de longe, um alguém em que se pudesse confiar para caminhar um percurso em linha reta, de um simples ponto a outro; ele era complexo por definição e tudo a seu redor girava em sentido oposto ao seu centro, pois ele era alguém que conjugava diversos pontos e que, por vezes, se perdia em alguns deles…


Quando planejei minha festa de casamento, duvidei de mim como filha e dele como pai, no momento em que vislumbrei a festa tradicional sendo conduzida por uma referência religiosa que provavelmente o criticaria, sendo vista por olhares preconceituosos que certamente o discriminariam e sendo sentida por mim, sua filha, que constrangedoramente o repudiaria por não conseguir inseri-lo, mais uma vez, no meu mundo enfadonhamente bege.


Lembrei-me de todas as risadas, de todas as fofocas e de todos os comentários maldosos que giravam em torno do meu delicado e especial pai e percebi que ele nunca foi realmente o pai que eu ou a sociedade em que cresci esperávamos; ao contrário, ele foi diferente de tudo o que eu conhecia como pai e de todos os estereótipos paternos que o colocariam em um patamar de igualdade com os pais das minhas amigas.


E foi quando resolvi, convencida de mim, que deveria entrar no altar da castidade ao lado da minha parte mais casta, mais vigorosa e mais plena. Dei as mãos ao meu pai, que optou por usar um vestido vinho, elegantemente decorado com adereços reciclados que lhe haviam sido presenteados por pessoas especiais, e entrei no espaço sagrado que contemplaria minha nova união com um marido que nasceria a partir daquele momento.


Fechei os olhos em uma oração silenciosa e pedi aos Deuses que me concedessem o privilégio de ter ao meu lado uma pessoa com um pouco da delicadeza de alma que meu pai me havia brindado por toda sua vida. Quando abri meus olhos vi a expressão do meu pai, com seus cílios compridos e seus olhos cheios de emoção, agradecendo o tempo que passamos juntos. Abracei-o de volta e entreguei todo meu amor, exatamente da forma que ele queria: aceitando a pessoa maravilhosa que ele sempre foi.


Fui! (Lamentar pelos que ainda não conseguiram enxergar o que eu finalmente consegui…)

* Eu apoio a campanha da Natura para o Dia dos PAIS.

** Eu apoio todas as campanhas a favor dos bons PAIS.

*** Eu apoio todos os pais que são PAIS DE VERDADE. Viva o AMOR.


Cris Coelho


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