Dentro da bolha da minha vida estabeleci estratégias de sobrevivência que fogem do discurso natural e das leis da disciplina do pensamento saudável, aquele que vem com um suco de laranja e doses de otimismo cotidiano…
Planejo cada dia como se fosse a última oportunidade de deixar minha marca, ainda que uma marca barulhenta ou uma marca com cores um pouco mais escuras do que os tons amenos do bom discurso correlato e inflexível. Abuso da negatividade em sua forma mais poderosa de proteção, em toda a sua cápsula criativa que traduz o poder da possível perda. Sim, do possível e nunca do eminente dano, porque sempre estamos suscetíveis a ele, seja em maior ou menor grau.
Então, abraço minha esfera pessimista com o máximo de esforço para que ela não me permita escapar dos meus objetivos mais pungentes. Faço dela minha oração diária para ajudar-me a controlar minha ira, a encontrar razão no perdão que não quero conceder e a seguir em frente com todos os desajustes que teriam sido consertados se tivesse olhado por um ângulo mais cuidadoso.
Despeço-me do otimismo gordo que enobrece os discursos calorosos de grandes mestres e encaro a dura subida de uma ladeira cujo nome se chama “cautela” e o sobrenome “cuidado”. Finjo tranquilidade nos momentos em que cito as palavras de que tudo vai dar muito certo sempre, mas anoto em meu caderno minhas rotas de fuga e meus protocolos de segurança.
Sou mais grata e mais feliz desta forma: beijando os que amo como se fosse a última vez que meu corpo os toca, para assim, festejar, em seguida, as próximas oportunidades de beijá-los de novo. E de novo. E de novo…
Fui! (agradecer a todas as inúmeras vezes em que a vida me surpreende…)