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Meu primeiro verão na América



Para quem está me seguindo em minhas aventuras de viagem sabe que vim parar na América por algumas razões. Melhor salário, um emprego diferente, valorização pessoal, estava “de mal” com o Brasil,etc.


Cheguei nos Hamptons, Long Island em New York em abril (um mês antes do início do verão oficial que começa no dia 31 de maio por conta de um feriado chamado Memorial Day – dia de lembrar os veteranos de que foram para as guerras).


Normalmente abril, primavera, é o tempo em que as casas de veraneio começam a ser preparadas para receber o verão e seus donos.  Muito dos habitantes de veraneio nos Hamptons têm sua casa/sede em Manhattan ou em outra parte do país. Preparar a casa significa limpar por fora, pintar, cuidar do jardim, consertar o que foi quebrado durante o inverno. O verão é onde a maioria dos imigrantes/empregados ganham dinheiro. Aqui tudo me lembra a história da formiga que trabalha duro no verão para sobreviver o inverno.

Somos formigas!


Cheguei num domingo depois de uma longa viagem e na segunda-feira fiz a entrevista de emprego com uma gerente brasileira e comecei a trabalhar. Não falava inglês, mas rinha prometido a ela que ela havia contratado a melhor housekeeper da região. Sim, eu seria uma doméstica por todo o verão. Brasileiro é sempre exagerado, mas tenho que dar todo o mérito aqui, porque somos muito dedicados e trabalhadores. Não temos dia ou hora. Nossa palavra vale ouro. Somos apreciados na América, mais que outros imigrantes da América Latina.


O contrato era de 5 meses nesse trabalho – ou seja – verão adentro. Achei que 5 meses seria suficiente para fazer dinheiro e voltar para o Brasil e procurar uma nova recolocação no mercado de trabalho e com um inglês melhor. Leia-se “melhor” um pouco mais que zero. Leia-se também fazer dinheiro porque cheguei na América com 200 dólares e nesse emprego ganharia 200 por dia!


Conheci toda a casa e suas particularidades, alarmes, e meu carro. Sim, eu tinha um carro da casa que poderia usar à vontade. A casa era de cinema, daquelas que só vemos nos filmes. Eu ficaria sozinha nela até o final de maio, quando a família começaria a vir nos finais de semana e o restante dos empregados também.  Fazia de tudo limpava do chão ao teto. Trabalhei duro na primeira semana e nas 4 seguintes só mantive a limpeza. Um mês se passou.

“O verão é onde a maioria dos imigrantes/empregados ganham dinheiro. Aqui tudo me lembra a história da formiga que trabalha duro no verão para sobreviver o inverno.Somos formigas!”

Não via a hora de conhecer mais gente, falar com mais gente. Ah! e tinha um detalhe, eu não falava inglês. Bom, pensei num plano B e logo descobri que uma escola local dava aulas para imigrantes e fui lá me matricular. Depois de um mês sozinha com pouco contato com a gerente da casa eu estava indo para a escola. Minha ala era composta de costa riquenhos, equatorianos, mexicanos, salvadorenhos, etc. Logo fiz amizade com a Beth, uma equatoriana falante, com um sotaque bem carregado.


Quebrei o gelo na primeira semana e me esforcei muito. Lia do meu jeito, estudava, ouvia música, assistia televisão e fazia academia. Tudo na base do sinal e das poucas palavras que aprendia nas minhas aulas noturnas.


O verão chegou, com ele outros empregados também brasileiros que me ajudaram. Passei por mal bocados apenas balançando a cabeça e sorrindo para a dona da casa quando ela me pedia algo e ao voltar pra cozinha (nosso head quarter) eles me ajudavam a desvendar o que a patroa havia me pedido.


Como vivia na casa, comia na casa, e não gastava dinheiro não gastei nenhum dinheiro (exceto com alguns agrados, cinema e academia), começava a me sentir “quase” americana e esse pensamento me perseguiu o verão todo.


Trabalhei muito! Fazia 12 à 14hs por dia. Caía na cama e dormia de cansaço. Como recebia em cheques, era a hora de abrir uma conta em banco e lá fui eu desbravar o gerente. Depois de uma hora saí do banco com conta, cartão e cheque. Eu era americana e não sabia. A felicidade tomou conta e foi quando decidi que não queria voltar pro Brasil, mas também não queria ficar ilegal.


Verão, trabalho, risadas, choros em banco da praça de saudades de casa, ligações para a família uma vez por semana, skype que não funcionava com o namorado no Brasil, gerente da casa me dando os piores trabalhos, desafios nas compras de supermercados, passeio com o cachorro cego, vontade de conversar, solidão. Assim foi meu verão…

Quer saber mais? Quer saber o que decidi depois do verão? Então me acompanhe que te conto no próximo mês.


Matéria de Ana Anselmo para a coluna Bolsa de Viagem

Encontre-a no Instagram @anaanselmo_babyplanner

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