Eu tive um sonho muito estranho… um sonho que me remeteu à época em que eu era pequena, quando pensava ter o direito de dizer coisas que, tempos depois, descobri serem estas, as falas de outras. Mantenho-me imóvel na mesma posição, pensando sobre a vida que eu queria e a vida que conheci; tento levantar da minha cama, ainda com o peso de um sonho intenso, cheio de expectativas e realidades distintas da que eu encontro do lado de fora dos meus pensamentos…
Vou até a cozinha para tomar meu café amargo e encontro pedaços de mim espalhados pela decoração colorida que enfeita meu pedaço de mundo, tudo assimétrico e delicadamente posicionado, assim como minha alma, que é ao mesmo tempo disponível e cuidadosa. Penso no quanto o mundo mudou e no quanto continua a mudar; penso na estrada, nas narrativas e nas possibilidades. Procuro abraçar as palavras que escuto corriqueiras nos corredores do universo digital e faço-me dona de algumas, como a jornada, a ressignificação e o lugar de fala de cada um.
Encontro formas para me expressar adequadamente e sigo buscando um meio para continuar meu discurso, elaborado há anos. Faço-me possível quando o tema é o próximo e tento entender suas dores, mas recuso-me a igualar meus sentimentos no mesmo patamar que o delas, porque o meu lugar no mundo é só meu, assim como as minhas dores, a minha jornada e o meu tesão na vida. Tudo escrito com a minha grafia e propagado com o som da minha voz rouca e única.
Fecho meus olhos por alguns instantes e penso de novo no sonho que tive, ansiando, por alguns segundos reviver a maravilha que foi estar livre no espaço sagrado do mundo onde tudo é possível, para então, abri-los novamente e encarar a vida que me rodeia, cheia de grupos delimitados e pessoas que se dizem iguais, mas que são infinitamente diferentes.
Sigo em busca desse universo cheio de possibilidades, onde cada um ocupa o seu lugar sem invadir o espaço sagrado do outro, nem tentar, ainda que sem êxito, vestir as mesmas roupas sem graça que elas escolheram para usufruir a jornada da mulher nos dias atuais.
Porque eu sou um ser tão complexo e tão maravilhoso que nenhuma bandeira pode defender as dores que carrego no peito ou reproduzir as falas que eu formulei durante tanto tempo, afinal, o meu discurso deve ser dito pela minha voz, da forma que eu achar melhor e na data que eu escolher…
Fui! (“Ressignificar minha Jornada com o meu verdadeiro lugar de fala”…)