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“Minha Professora de Direito”



Era uma terça-feira chuvosa quando tive aula com ela pela primeira vez… engraçado pensar que meus dias memoráveis são sempre contemplados com terças-feiras chuvosas, assim como no dia em que meu marido me pediu em casamento por telefone, em um ponto de ônibus! Mas isso já é uma história para ser contada em outro momento…

Voltando para minha história sobre ela, a minha professora de direito, lembro-me bem do dia em que ela chegou na sala de aula: com um sorriso discreto, com uma maquiagem discreta e com uma roupa também, claro, discreta. Ela era toda discreta e mantinha uma atmosfera elegante em todos os pontos em que compartilhava suas valiosas falas sobre o universo jurídico.


Sua entonação de voz, sua forma de caminhar pela sala de aula, seus exemplos oportunos e sua habilidade genuína em trazer a legislação sob um prisma realista sem meias verdades, dentro de nenhum casuísmo fortuito, me fizeram imediatamente adorá-la! Ela foi um marco necessário naquele momento, uma pessoa que me levou a desejar ser um pouco do que ela era e é até hoje, a profissional brilhante, séria, elegante, inteligente e, estrategicamente, perfeita.


Passei a admirar o direito de família e a incorporar os conceitos aos quais havia sido apresentada com simpatia e vontade, algo inimaginável antes, durante todo o percurso que acompanhei meu marido sendo massacrado em processos que lhe tiraram mais a alegria e a dignidade que todo o dinheiro envolvido… e o que me amedrontava antes passou a ser o motivo de uma nova paixão.


Entendi o jogo que se jogava e passei a figurar como protagonista da voz da razão, sempre embasada pela fala certeira da minha professora que eu tanto admirava… mas, a vida mudou e eu precisei seguir outro caminho, rumo a uma terra fria e cheia de pseudo-oportunidades de trabalho; era um vale-vida para São Paulo e eu acabei largando minha faculdade de direito.


Confesso que não senti tanta pena de ter abandonado meu curso quanto senti saudades de escutar essa mulher falando sobre as leis e seus desdobramentos jurídicos. Senti falta dela, de vê-la encenar seus argumentos e de imaginá-la atuando nos tribunais do Rio de Janeiro, usando suas roupas chiques e utilizando sua voz firme para defender as causas que era contrata para atuar.


Tempos depois, ao recebermos mais um processo advindo da ex-companheira do meu marido, não tive dúvidas em escolher uma nova advogada. Trocamos nosso antigo medalhão de renome por uma singela e magistral doutora, com uma trajetória reconhecida por seus colegas de magistratura e de tribunal, que entoava o saber de uma mestra, com a promessa de renovar a energia paralisada que vigorava ao redor do nome do meu marido.

Tínhamos a esperança de que ela, ao lado de sua extraordinária sócia, pudesse mudar o cenário no qual estávamos absorvidos, com uma imensidão de lama por todos os lados. Depositamos nossa confiança e todas as nossas fichas nessa aposta e acreditamos nessa mulher magrinha, de voz doce, com postura elegante e sem nenhuma pinta de que brigaria ferozmente como uma leoa em um processo complicado de família.


Realmente sua briga jamais foi para o patamar do limbo, aquele em que habitam malandros encachaçados e jogadores de pôquer sem moral ou força para atuarem no campo da diplomacia. Ela não conseguia descer tão baixo, pois sua postura fina e educada não lhe permitiriam outra abordagem, senão a de elevar seus adversários a um patamar mais alto, um em que seus saltos finos pudessem ancorar seguros para um desfile soberbo com classe, elegância e muito talento.


Sim, nossa advogada Ana Beatriz tem muito talento! Tem talento para esperar o melhor momento, para se calar quando acuada pelo seu colega de profissão, para retirar trechos agressivos que contavam a verdade, mas de uma forma pouco apropriada. Ela tem talento para falar, no tom suave e ao mesmo tempo forte, todas as verdades necessárias, sem que para isso precise recorrer a baixarias e absurdos morais, vistos corriqueiramente nos tribunais de vara de família…


E foi assim que eu, mesmo sem terminar meu curso de direito, pude aprender tanto sobre esse curso. Porque aprendi com a melhor advogada que existe: a advogada da nossa família, a nossa Ana Beatriz.


Em 7 anos de parceria, meu marido venceu os três processos que ingressou com ela no comando, isso mesmo: 100% de aproveitamento em uma série de vitórias que massagearam nosso ferido ego e que resgataram a autoestima do meu marido, tão machucado e violado moralmente, durante tantos anos de injustiças profanadas em esferas do mais baixo jogo jurídico possível… hoje, vejo meu marido sorrir pelo que consideramos o certo, não pelo fato de ter ganhado do adversário, porque em um processo ninguém realmente ganha nada, em um processo em vara de família todos perdem sempre, na verdade, já começam perdendo quando são obrigados a seguir por esse caminho. Mas, advogados como ela, ajudam a resgatar a dignidade por vezes perdida a duras penas em batalhas desnecessariamente penosas; advogadas como ela mostram a verdade dos fatos com habilidade, estratégia e, acima de tudo, elegância.


Salve Ana Beatriz! Salve você por nos ensinar tanto e por elevar os processos em que meu marido esteve envolvido a um nível em que ele conseguisse se defender da forma como ele também sabe: argumentando com educação e, acima de tudo, fazendo prevalecer a razão.

Não sei se a vida algum dia vai me chamar de novo, em uma terça-feira chuvosa, para retornar a uma sala de aula de um curso de direito. Mas, se algum dia esse convite chegar, espero que seja através de uma mulher como ela, que me estimula a sentar para escrever com paixão e admiração extrema.


Cris Coelho para Coluna Sociedade

Encontre-a no Instagram: @crisreiscoelho


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