Por favor, não me conte seus segredos. Mantenha-os quietos, fechados dentro de suas caixas de vidro, cuja proteção é tão hermética e, ao mesmo tempo, tão frágil… são eles, os senhores da justiça, que balançam o pêndulo da dúvida sobre a sua moral e que decidem quem pode ou não viver nesta selva de egos chamada “vida”. E somos todos nós, robôs idealizados à imagem e semelhança do próximo, sempre que esse próximo representar o que há de mais lindo.
Porque não há nada melhor do que aparentar ser melhor do que você jamais foi, e ser perfeito na definição de quem procura esse “algo a mais”; não há nada melhor do que ser, simplesmente, completo aos olhos dos estranhos que rodeiam a sua vida com a intimidade de locutores de rádio, que dissipam as verdades com milhões de tons mais reluzentes que os cinzas opacos do seu acordar sonolento e cansado…
Faz tempo que queria dizer a você as verdades intocadas da vida que nos acomoda em seu colo, itinerante e faceira como toda boa brisa que vem do mar gelado direto para os nossos corpos: ela nos refresca e umedece, mas não nos mostra sua verdadeira temperatura, até que entremos por inteiro no mar.
Então, minha doce menina, seus segredos devem sempre ser camuflados debaixo das camadas de pó que intoxicamos nossa pele viva; devem ser contidos nos alicerces da sobrevivência servil, nos arredores desta cidade de máscaras e devem, por fim, reinar absolutos no espaço sagrado da sua mente, sempre que você conseguir atingir o sono mais profundo, onde ali, você poderá deixá-los vagar livremente na sua própria escuridão…
Fui! (Visitar meus segredos…)