A vida é repleta de oportunidades e desafios e não é diferente quando se trata de carreira. Mas muitas vezes temos medo de agarrar uma oportunidade, porque estamos presos em uma zona de conforto, mesmo inconscientemente, onde a rotina e a familiaridade nos proporcionam segurança e estabilidade.
A zona de conforto é uma área mental onde nos sentimos seguros com nossas circunstâncias atuais. É um lugar onde sabemos o que esperar e onde as incertezas são minimizadas. Embora possa parecer agradável e acolhedora, também pode limitar nosso desenvolvimento profissional. Corremos o risco de estagnar e de não aproveitar todo o nosso potencial, porque o crescimento acontece quando enfrentamos desafios e exploramos territórios desconhecidos.
Ao sair da zona de conforto e expandir nossos horizontes, estamos nos abrindo para novas experiências, desafios e aprendizados que moldarão nossa carreira de maneiras inimagináveis, mas a gente precisa ter coragem para esse movimento. E não vou evitar repetir aquela frase que já ouvimos diversas vezes, porque eu adoro um clichê: a coragem não significa ausência de medo, e sim, a capacidade de enfrentá-lo e avançar apesar dele.
Não devemos subestimar o medo, essa emoção poderosa que pode exercer uma influência significativa em nossas vidas, especialmente quando se trata de tomar decisões relacionadas à carreira. Não podemos fingir que ele não existe. Queremos alcançar nossos sonhos, progredir, conquistar estabilidade e realização profissional, porém, o medo pode se infiltrar em nossos pensamentos e nos impedir de aproveitar oportunidades valiosas. Para alguns, o medo grita, para outros, sussurra, mas no fundo, ele está lá.
Podemos ter medo de arriscar em um novo emprego, empreendimento ou projeto porque não sabemos se seremos bem-sucedidos. Podemos hesitar em aceitar uma promoção ou uma transferência devido ao medo do desconhecido ou da responsabilidade adicional. Às vezes, tememos até mesmo buscar novas oportunidades que tenham mais fit com o que sempre sonhamos, preocupados com o risco do fracasso.
E como lidamos com isso? Estou aprendendo também, a cada dia. A primeira coisa é compreender que o medo é uma emoção normal e que todos nós enfrentamos dúvidas e incertezas. É essencial lembrar que os erros e fracassos fazem parte do processo de crescimento e aprendizado e que é melhor tentar e falhar do que nunca ter tentado (sim, outro clichê!).
Certa vez, ao compartilhar que estava com um tremendo frio na barriga antes de fazer uma apresentação, um amigo me falou que até a Fernanda Montenegro assumia que ainda sentia frio na barriga antes de entrar no palco. Saber disso me ajudou naquela apresentação e fui pesquisar depois em que circunstância a atriz teria revelado isso encontrei uma entrevista sua para a revista Quem, edição 194, publicada em 2004, em que respondeu exatamente à pergunta se ainda sentia frio na barriga antes de subir ao palco:
“Frio na barriga? Ainda sinto todo dia, toda hora, a cada cena!”
(Fernanda Montenegro)
Se até Fernanda Montenegro sente frio na barriga, a nossa pode até congelar que está tudo bem, não é mesmo?
Uma vez reconhecido o medo, uma estratégia importante para lidar com ele é buscar apoio e orientação de pessoas confiáveis, como mentores, amigos ou profissionais experientes. Essas pessoas podem fornecer insights valiosos, encorajamento e perspectivas diferentes, ajudando-nos a enfrentar nossos medos e avançar em direção às oportunidades.
Outra medida é se alicerçar nos seus pontos fortes e “se colocar no fogo” em situações pontuais e temporárias que possam lhe tirar da zona de conforto e gerar medo da exposição, do fracasso, do julgamento ou outro, para exercitar o enfrentamento. Não precisa ser exatamente na sua área profissional - acho até que o ideal é que não seja, para que a gente se sinta mais à vontade. A questão aqui é ir desenvolvendo habilidades para ganhar mais resiliência e confiança em si mesmo em territórios inexplorados. Estas experiências vão sedimentando a capacidade de lidar melhor com o novo, as adversidades e os contratempos que possam surgir em nossa carreira.
Enfim, reconhecendo o medo, buscando apoio e desenvolvendo resiliência, podemos enfrentar esses temores de frente e nos abrir para um mundo de possibilidades.
E por fim, já que citamos a admirável atriz Fernanda Montenegro, compartilho mais uma frase sua, extraída da mesma entrevista:
"Se tenho certeza de uma coisa, é que sou uma atriz. Se me elogiam, eu não vou parar. Se me derrubam, também não vou parar.”
(Fernanda Montenegro)
Precisamos, acima de tudo, de maturidade profissional para seguir em frente independentemente de elogios e críticas. Alguns levam muito a sério os elogios e param de se desenvolver. Outros acreditam nas críticas e tombos e paralisam. Nada é definitivo, tudo é circunstancial. Que sigamos o exemplo dessa grande atriz e não deixemos que elogios ou críticas nos parem, porque nosso compromisso deve ser, acima de tudo, com nós mesmos, com a nossa carreira e com a evolução para o que ainda virá.
Érica Saião para a coluna Mulher & Carreira
Encontre-a no Instagram: @erica.saiao