O termo plus size tem origem norte-americana e foi criado, inicialmente, para denominar roupas confeccionadas em tamanhos acima do “convencional”. Com o tempo, o termo começou a ser empregado em outros mercados, como é o caso das modelos e das misses.
Quando comecei minha jornada de entendimento do que era ser uma pessoa gorda, o termo plus size me representava e me ajudava a encontrar outras pessoas como eu; com corpos parecidos com o meu. Mas não é o que tem acontecido de uns tempos pra cá.
Modelos e misses plus size estão cada vez mais magras. Seus corpos, curvilíneos (e não gordos!) são socialmente aceitáveis e a luta que enfrentamos, definitivamente não é a mesma.
Essa reflexão me pegou de maneira ainda mais forte durante a pandemia. O motivo? Eu passei a fazer mais compras do conforto da minha casa para não me expor e não conseguia mais me enxergar nas modelos que estampam os anúncios.
O primeiro caso aconteceu ao tentar comprar um pijama. Queria algo bem fresquinho, confortável, mas ainda assim fofo. Deparei-me com o anúncio abaixo e pensei: é a minha cara. Ainda assim, demorei um bocado de tempo para finalizar a compra, porque simplesmente não consegui imaginar como as peças ficariam no meu corpo, com barriga grande, quadril largo, bundão… Resolvi esperar que outras pessoas fizessem a compra e deixassem suas avaliações para que eu pudesse me guiar por elas. E só realizei a compra, de fato, quando uma mulher gorda compartilhou uma imagem sua usando o pijama.
O outro caso aconteceu mais recentemente e não teve a ver com roupas. Meus óculos de grau quebraram e eu decidi comprar um novo pela internet. Fiquei muito insegura porque nunca comprei um óculos sem experimentá-lo antes, mas foi a solução que encontrei para não sair de casa e colocar objetos no meu rosto que eu não sabia por onde tinham passado antes.
E aí veio outra surpresa: eu visitei o perfil de mais de 10 óticas e não encontrei nenhuma modelo gorda estampando seus anúncios. Eu simplesmente não conseguia ter dimensão de como as peças ficariam em um rosto redondo como o meu, porque aparentemente as pessoas só se preocupam com o tal do plus size quando falamos de peças feitas única e exclusivamente para elas. Óculos, sapatos, acessórios de moda, itens de maquiagem… Como nada disso é pensado exclusivamente para pessoas gordas (na grande maioria dos casos), por que se preocupar em representá-las nos anúncios?!
O mercado procura, cada vez mais, por modelos com manequim 46/48.
A Mayara Russi, por exemplo, precisou emagrecer para cumprir as exigências do mercado e conseguir mais trabalhos. Já a modelo Bia Gremion, que veste manequim 60, não só tem dificuldade para encontrar trabalho, como nem mesmo é agenciada.
O que era para ser um mercado mais inclusivo e honesto com as pessoas – tanto modelos quanto consumidores – acaba por se tornar excludente como todos os outros.
E isso não é uma guerra para saber quem é mais ou menos gorda. Não é uma disputa de uma versus outra. É apenas uma triste constatação de que até para estar fora do padrão é preciso estar dentro dele. A mensagem é simples: “Você pode ser gorda, mas não seja gorda demais.”
Os corpos ligeiramente curvilíneos estampados nos anúncios não sabem o que é não conseguir usar o transporte público porque as roletas são apertadas; não sabem o que é não conseguir fazer um exame médico porque os equipamentos não te comportam; não sabem o que é não conseguir viajar de avião porque os assentos são minúsculos.
Nossas lutas já não são mais as mesmas e é por isso que precisamos começar a separar os movimentos #BodyPositive e Antigordofobia. Nossas vivências são diferentes, assim como nossas demandas.
Thati Machado para a coluna Gorda, sim!
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