Núbia Coelho é uma dessas mulheres que admiramos. Moradora de Copacabana, a vida inteira, Núbia viveu uma infância de muitos recursos e pouca estabilidade emocional.
Em meio ao divórcio dos pais, Núbia presenciou brigas constantes e viu sua mãe ir embora. Enfrentando um período de muita dificuldade, inclusive material.
O tempo passou e Núbia entrou em um relacionamento onde engravidou aos quinze anos. Ela viveu um período de muita tensão e dúvidas, envolvida em conflitos internos e externos com o seu namorado e filho.
Núbia decidiu que aquela não poderia ser a sua realidade, então deu um basta na situação e seguiu para a faculdade, onde lhe foi dada apenas duas escolhas: Ser dentista ou advogada. Apesar de ter uma alma de artista, Núbia se encantou com a possibilidade de cursar uma faculdade de direito, uma vez que possuía dentro de si os critérios de justiça bem demarcados.
Infelizmente, o encanto pela profissão se foi em função da triste realidade de assédios que enfrentou, já que possuía o “fardo” de ser uma mulher bonita, o que, na época era tido como um “passaporte” para qualquer forma de abuso…
Detalhista e perfeccionista, Núbia se destacou na faculdade, com notas cima da média. No entanto, encontrou dificuldades em sua trajetória estudantil e posteriormente profissional, por ser considerada bela demais. Sim, o mundo é machista desde sempre e, com a nossa Scarletiana não foi diferente.
Núbia foi alvo de assédio por parte de um dos seus professores, que ameaçou reprová-la, caso não cedesse a ir a um encontro com ele. Suas notas eram altas na referida matéria e ela resolveu ignorar.
O resultado, não foi bom. Núbia infelizmente foi reprovada.
Ela então teve que largar seu emprego e passou a ter maiores dificuldades financeiras para acomodar os gastos com seu filho na casa de sua mãe.
Núbia se calou por muitos anos. Aguentou uma história de violações emocionais por toda a sua vida e se reinventou para assegurar o conforto material e psicológico do seu filho, seu maior e mais precioso bem.
Hoje Núbia cuida de si e de muitos. É uma verdadeira “mãe” amorosa para todos os seus agenciados e parceiros de trabalho, onde não mede esforços para entregar o melhor de si, seja como profissional, seja como amiga inigualável. Todos a amam pela sua simpatia, pelo seu caráter e pela sua generosidade.
Ela é uma dessas mulheres que realmente nos emocionam, que fazem a diferença no caminho de quem cruza. Núbia é uma mulher com a fala da verdade, que representa um universo de várias outras mulheres. Ela é a voz que precisamos escutar quando desanimamos, a mulher que inspira tantas outras a seguir em frente e que não se cala quando o assunto é a liberdade da mulher na sociedade.
Essa é Núbia Coelho, a nossa Scarletinana do Mês de lançamento.
MS – Você passou por muitos assédios psicológicos, morais e sexuais na sua vida. Como você lida com essas lembranças? Considera que algumas dessas feridas já cicatrizaram?
Acredito que nós, mulheres, passamos por inúmeras situações de assédio e, muitas vezes, estamos tão acostumadas a normalizar essas agressões que entendemos ser “normal”, ou aprendemos a conviver com os abusos, ouvindo que ser mulher é assim mesmo, tudo é culpa nossa; somos acusadas pelo simples fato de sermos uma mulher. Mulher gera a vida, não é um ser inferior ou dependente. Uma das lembranças mais marcantes de assédio veio justamente da faculdade de Direito, onde eu deveria aprender meus direitos mas não foi assim que aconteceu. Um professor que é advogado muito respeitado no mundo jurídico simplesmente achou que a então menina de uns 19 anos, que era eu, deveria sair com ele caso contrário ele me reprovaria mas eu estava estava em todas as aulas, não faltava, não atrasava, sempre fui boa aluna, daquelas q fica lá na frente, mesmo assim fui reprovada por não ceder a um capricho do homem que ensina Direito mas na sua vida particular usa do poder para obrigar o mais fraco a atender suas vontades. Precisei deixar meu trabalho para conseguir me formar nos 5 anos que é o tempo do curso de Direito, fiquei sem dinheiro com filho pequeno, mas continuei com a minha dignidade e fiz o que acreditava, não sou boneca inflável de homem nenhum, afinal, não estamos aqui para atender as expectativas deles. Não levei o caso para a direção da faculdade porque, naquela época, não se falava em assédio moral e sexual, e essas situações eram, tratadas (pelos homens) como apenas elogios e galanteios, e, ainda sob a ótica machista, nós mulheres, deveríamos nos sentir lisonjeadas.
MS – Quais as lições e traumas que você traz dos seus relacionamentos anteriores?
Hoje eu tenho a certeza de que relacionamento é pra quem QUER ficar junto e não pra quem PRECISA. Se você precisa ter uma outra pessoa para se sentir bem, para se sentir feliz, para se sentir completa, então já está começando o relacionamento errado. Eu acho que as duas partes neste relacionamento têm que entender que você está aí para fazer o outro feliz; se os dois pensarem assim, o relacionamento vai prosperar. Eu aprendi que não se constrói um relacionamento fazendo “personagens”; fingindo ser quem você não é ou fazendo uma coisa na frente do outro e sendo outra coisa longe, isso é algo que me incomoda muito nos relacionamentos que vejo por aí, que acontecem… enfim: não faça com o outro o que não gostaria que fizessem com você.
MS – Quais os conflitos que viveu como filha e não gostaria de repetir como mãe?
Vivi minha infância nos anos 80, com meus pais e minha irmã, teoricamente tínhamos tudo o que uma família precisava, morávamos em um bairro nobre, acesso a boas escolas, viagens, estávamos prosperando financeiramente mas a desestrutura emocional tb fazia parte dessa família. Por muito tempo carreguei essas angústias e culpei pessoas, hoje entendo que, EU precisei me curar e tentar resolver os estragos que já tinha feito como mãe. Fora a culpa que toda mãe carrega, por não poder parar a vida para ser mãe, hoje as mulheres tem esse poder e lugar de fala, mas antes dizer que é complicado ter um filho, parecia uma heresia.
MS – Você levou seu filho para viver fora do Brasil. Por que esse ideal? Você levou seu filho para viver fora do Brasil. Por que esse ideal?
O Brasil, para mim é o lugar mais lindo do mundo, o clima é bom, natureza exuberante, Deus caprichou e nos entregou. Só que hoje é um lugar violento, com poucas oportunidades, difícil criar um filho onde os exemplos não são bons, como explicar que o trabalhador honesto é preso injustamente e o político corrupto ficou impune? Ter filho é ter a responsabilidade de formar um indivíduo, que em pouco tempo vai fazer suas escolhas sozinho, o que ele vai escolher depois de adulto, já não cabe a mim mas o que vou ensinar enquanto mãe é a minha parte na formação de caráter. Nessa nova cultura que ele está vivendo, as pessoas trabalham e vivem com dignidade, passar ou presenciar algum caso de violência como por exemplo assalto, tiroteio, em mais de 3 anos que ele mora na Europa, nunca viu! Queria uma vida simples, de coisas normais entre mãe e filho mas infelizmente o Brasil não me proporcionou, optei por separar temporariamente do meu filho, e dessa maneira cuidar do futuro dele. Espero em breve tb morar por lá.
MS – Você tem um discurso muito livre com relação à vida. Se considera uma “feminista”?
Considero que nós mulheres somos as gestoras do mundo, sim isso mesmo, as gestoras. Pq se amanhã todas nós decidirmos que não queremos mais gerar vida, a humanidade acaba! A ciência ainda não consegue fazer o que fazemos, gerar uma vida, já a parte do homem podemos sim fazer com ciência, já parou p pensar nisso? Não acho que mulheres são melhores que os homens, não é isso, mas está na hora de entenderem de uma vez por todas que temos vidas nas mãos ou melhor, na barriga, hoje temos o poder de decidir ser mãe, algum tempo atrás só servíamos para isso, hoje depois de tanta luta das nossas mães, avós podemos votar, dirigir, trabalhar, casar ou não, ser mãe solteira ou não ser mãe enfim o movimento feminista tem muito valor, vejo a nova geração de mulheres se posicionando com muita firmeza e isso faz valer a pena, nunca tive coragem de denunciar os vários assédios sofridos então quando vejo uma menina de 20 anos gritando para o mundo que foi vítima, vejo que evoluímos e agora elas tem espaço e apoio. (1minutinho p secar os olhos marejados…).
MS – Nas relações pessoais, existe alguma dificuldade ou trauma que o passado deixou?
Felizmente hoje podemos ter alguém porque queremos e não porque precisamos, mas infelizmente tenho meus traumas, e pelo que me conheço não vai ser fácil me curar nesse sentido… acredito que existam sim homens que valem à pena, mas não estou disposta a arriscar neste momento, pois confiança para mim é ouro e não sei se confiaria novamente. Na verdade, gostaria de coisas muito simples: alguém com quem eu pudesse confiar, com palavra e caráter, coisas que para mim são muito importantes. Se um dia acontecer (e espero que aconteça! rs), espero que ele entenda que estaremos juntos porque queremos e não porque precisamos. Já reparei que para a mulher refazer a vida, seja com novo namoro ou casamento, é sempre mais penoso, enquanto seus ex-companheiros já estão com a vida acontecendo, em outros relacionamentos, nós ainda estamos resolvendo pendências e tentando nos reerguer. Sempre questiono porque é assim… a conta é sempre mais alta para as mulheres!
MS – Você é uma profissional apaixonada pelo seu trabalho. O que te motiva tanto?
Gosto de pessoas, como toda boa leonina, preciso de gente! Sim as vezes é cansativo, pq ser humano é complexo, não é uma conta óbvia de matemática, mas cada um com suas particularidades, dúvidas, anseios, medos e isso nos torna tão empolgantes. Amo unir forças, amo uma nova ideia, amo começar um trabalho, hoje tenho uma empresa que está voltada para a área artística, represento atores e atrizes que sabem as dores e delícias de serem o que são mas em um passado não muito distante sonhava em ser uma Juíza, sempre conto essa história, pq na minha ingenuidade quando entrei para faculdade de Direito aos 17 anos, pensei vou me formar aos 21 anos e com uns 25 serei Juíza, ou seja, está tudo planejado, tudo sob controle mas a vida não é uma receita de bolo, e sabe aquela frase Deus é quem dá a última palavra? Então, é a mais pura verdade pq se aos 25 anos achei q estaria proferindo sentenças no Tribunal de Justiça, hoje com 39 anos estou fechando contratos para a TV e cinema. Como explicar?
MS – Qual seu propósito de vida? Qual mensagem quer passar para o mundo?
Sei que viemos p evoluir, tento ser uma pessoa melhor a cada dia, tem dias que são desmotivadores, parece ser impossível continuar mas acredito muito em Deus e tenho certeza que aqui estamos só de passagem, é uma sala de espera, e dependendo do que eu fizer o final vai ser bom ou ruím. Vamos colher exatamente o que plantamos, não tem como ser de outro jeito, não ia fazer sentido plantar morango e colher uva, por isso aprendi a pedir sabedoria e empatia p lidar com as pessoas, talvez um gesto simples nosso pode fazer muito por alguém, então o q custa se colocar no lugar do outro? Fácil não é mas é possível, e no final de tudo quando passar a história da nossa vida bem diante dos nossos olhos, é o que dizem que acontece quando estamos deixando essa vida, teremos a certeza de que foi feito o melhor que estava ao nosso alcance.