“quem és? Perguntei ao desejo.
Respondeu: lava.
Depois pó. Depois nada.”
Tínhamos um pacto firmado em meio a uma crise de que estávamos autorizados a possíveis liberdades, diante de uma conversa honesta.
Com muito frio na espinha e uma curiosidade misturada com medo feito uma criança no primeiro de escola, nos permitimos.
Aos poucos começamos a deixar nossa porta entre aberta, do tipo saia sem fazer barulho.
E assim fomos, primeiro eu e depois ele...
No começo nosso tesão era muito mais sobre a escuta, sobre o imaginário de pensar no outro com outros corpos.
Mas em uma noite na casa de amigos conheci Pedro, me apaixonei por ele, suas mãos, sua boca, sua pulsão erótica de ser.
Enquanto ele falava eu fazia sexo com suas palavras, me sentia comida por sua profundida de existir.
Não quis Pedro só para mim, quis apresentá-lo à Marcelo. Desde então quando possível eram três corpos em estado de contemplação, não tínhamos mais frio na alma apenas calor.
Nossos corpos de sal, nossos corpos sol.
Éramos três, sem nenhum medo e nenhum controle, não tínhamos limites.
Nossas carnes respiravam juntas, feito vento que lambia nossas peles, não tínhamos contornos, não sabíamos onde começava o eu ou o outro, a risada era alta e o olhar lacerava a alma.
O perfume da sala emanava nosso sexo, que ficava íntima de nossas paredes.
Bethânia cantava para nós enquanto dançamos nus ao meio a conversas profanas, e junto sentia a força bruta de quatro mãos entre minhas coxas e quadris fazendo com que gemesse alto de dor e prazer. Me chupavam até eu não sentir mais minhas pernas deixando minha essência escorregar pelo chão, era violento, visceral um desejo faminto de gozar com meu corpo inteiro e assim fazia.
Liberto-me de moralidades, sem vestes prazer que vem do corpo, me deitava diante daqueles homens de pernas abertas, respirando fundo até ser engolida inteira enquanto via suas bocas vermelhas se lambuzarem entre eles e assim ao meu deleite vê-los gemendo de amor.
Aquilo tudo era só a gente que sabia, assim como um livro místico se desfez. Aquelas formas eram obras de arte, feito água, chuva e vento que se acabam.
Gabriela Prux para a coluna Papo de Bordel
Encontre-a no Instagram: @gabiprux