Um dos meus filhos, o João, que é gêmeo do Cacá, me perguntou como os bebês são feitos. Ele me disse que sabia muito pouco a respeito, mas que tinha uma certeza: de que tudo o que era preciso para criar um bebê era “um homem e uma mulher”. Essas palavras não eram dele, mas replicadas de algum discurso religioso proveniente da rádio evangélica da babá…
Sou super a favor da religião evangélica, assim como sou a favor, e ao mesmo tempo, contra todas as religiões. São ótimas e terríveis ao mesmo tempo! Mas essa já é outra história… Voltando para o tema do “mistério da criação”, resolvi contar a verdade para meu filho: João, você não foi feito somente por uma mulher e por um homem.
Ele me olhou espantado, como se tivesse acabado de ouvir que “doce não engorda”, e questionou: “Mas mamãe, você e o papai não me fizeram?”. “Sim e não” eu respondi. Nós te fizemos sim filho, mas não o fizemos sozinhos…
“Para você vir ao mundo precisamos de quatro “pessoas”. Essas pessoas são: eu, seu pai e a ciência. Precisamos muito da tecnologia, do médico, dos remédios. Precisamos criar você em uma sala de laboratório. Sua primeira residência não foi na barriga da mamãe, mas em uma lâmina, daquelas que colocamos no microscópio para enxergar as partículas minúsculas da criação. E lá, no meio de outros 13 irmãozinhos, você foi selecionado para vir a esse mundo. Você venceu uma batalha pela vida, a primeira de muitas e venceu porque você, junto com o seu irmão, eram os mais fortes dentro da lâmina. Você é um guerreiro, filho!”.
Expliquei também que a irmã, diferente dele e do irmão gêmeo veio de forma “natural”, sem nenhuma interferência médica. Ela sempre foi tida como um milagre, o nosso milagre. Mas olhando para ele, meu filho lindo, grande e gordo, percebi, naquele momento, que ele também era um milagre. Um milagre difícil, que sugou minhas forças e redobrou minha fé. Um milagre que me fez suar, gemer de dor, tremer de medo… um milagre pelo qual eu tive que lutar; que precisou muito da minha ajuda para acontecer. Ele e seu irmão são dois dos meus três milagres!
E, depois de explicar toda essa história, ele sorriu e me perguntou: “Mas mamãe, você não terminou de contar… quem foi a quarta pessoa?”
Com outro sorriso lhe respondi:
“A quarta pessoa meu filho… a quarta pessoa que ajudou a vir ao mundo é DEUS. Ele é o responsável por tudo o que é criado. Seja criado naturalmente ou em laboratório. Com duas ou mais “pessoas”. Ele é quem permite que o milagre da vida aconteça.”
E a vida, meu filho, é algo muito mais complexo do que o sexo feminino e o sexo masculino. A vida é mais abrangente, mais absoluta e mais sagrada do que qualquer escritura ou qualquer limitação.
Ele me abraçou agradecido. Acho que entendeu o que eu queria ensinar: que o real mistério da criação consiste no verdadeiro “querer” e está presente em todas as formas de amor…
Cris Coelho para a coluna Maternidade