Pelas minhas andanças por essa vida tão cheia de percalços e desafios, encontrei razão nas palavras dos velhos sábios, que carregavam o estigma de senhores dos bons modos e moderadores da boa convivência, mas que no final, eram apenas velhos mortais que tentavam ensinar o que nós não queríamos aprender…
Entendi que, por mais que eu goste de alguns, jamais serei digna do seu colo ou do seu alento, pois sou menor que sua ganância em se destacar ou em delimitar os seus espaços nos patamares mais altos. Entendi também que sou elegante demais para frequentar os mesmos bares que aqueles outros, que insistem em embriagar de vulgaridade o seu ganha-pão de todo dia.
Aprendi a ser mais generosa com todos que me rodeiam, mesmo sendo algum deles menos amáveis do que eu mereceria ou menos solidários, ou ainda, menos recíprocos… aprendi a não discutir por nada mas, ao mesmo tempo, entendi que, às vezes é necessário retrucar alguma dose de malcriação, seja para se impor, seja para expurgar os demônios que correm revoltados em minha mente com tamanha ignorância alheia…
Entendi que os trilhos são mais lisos que meu salto fino aguentaria, mas que a graça reina justamente aí: em fazer-me equilibrar nas barras escorregadias desta sociedade melancólica que insiste em rir de si mesma, em descompasso com os que tentam permanecer em pé, eretos e firmes em seus propósitos.
Aprendi a amar sem culpa os que me cativaram pelo caminho e entendi que não importa o quanto eu tente, jamais vou conseguir ser indiferente aos meus amores do passado, aqueles que me ensinaram a caminhar e a mentir para sobreviver, antes mesmo que eu percebesse que estava sendo eu a enganada, durante todo o caminho. Mas eles permanecem ali, como feridas expostas e cicatrizes mal curadas, até o dia em que eu deixar que sequem; até o dia em que eu deixar que se vão…
E os novos? Estes me dizem todos os dias que eu devo continuar a caminhar por estes trilhos escorregadios, cambaleando e rezando, com todo o medo que se acumulou no meu peito durante o percurso, depois de ver tudo o que vi e de viver todas as dores que vivi; são eles, meus novos que me pedem um pouquinho mais de mim, em doses de clemência e abnegação, e em forma de conselheira velha, daquelas que primam pelo bem estar dos que chegam recentes ao picadeiro da vida, saltitantes de alegria, esfuziantes de vontade e ignorantes das verdades que encontrarão pela frente, nesta estrada chamada “aprendizado”…
Fui! (Equilibrar-me nos trilhos desta vida incrível e ao mesmo tempo perigosa…)