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O Que Eu Posso Te Dizer?

O que eu poderia te dizer, se já não estivesse por aqui?

Como encontraria as palavras certas para te contar o que eu realmente sinto por você? Acho que seria muita prepotência resumir uma imensidão de sentimentos bons em uma pequena carta… mas, ainda assim, eu tentaria, em mais um dos milhões de gestos que fiz em nome do que você precisava escutar.

Acho que começaria dizendo que muito do que eu exigi de você foi “em vão”; isso porque você sempre soube que era capaz de entregar muito mais do que entregava e, toda a sua preguiça era apenas mais uma das gracinhas que você fazia para tentar descobrir até onde ia a minha paciência. Mal sabia você que a minha paciência sempre foi muito maior que a sua preguiça em estudar…

Tudo o que eu disse e fiz foi para o seu bem, ao menos eu acreditava nisso… é certo que nem tudo foi “exatamente” para o seu bem, mas sim para a minha própria satisfação. Sim, eu não resistia ao benefício de saber que você estaria seguro e agasalhado, mesmo que isso te custasse algumas diversões e experiências a menos…

E também gostaria de dizer que, na verdade, as comidas que eu exigia que você consumisse, as atividades que te forcei a fazer, aquela bagunça de sempre que eu te punia quando o obrigava a arrumar, tudo isso foi necessário para o seu crescimento, mas, foram ainda mais importantes para a minha consciência, para que eu conseguisse dormir tranquila com a sensação de que o meu dever estava sendo feito.

Eu sei, essa era uma batalha que eu travava comigo mesma, era a minha cobrança como mãe. Eu tinha resolvido que seria a melhor mãe que você poderia ter e, mesmo sem ter aprendido este ofício, eu busquei criar uma metodologia própria, uma que fosse bem padrão e ao mesmo tempo, totalmente personalizada para as suas necessidades. Sei que não cumpri todas as minhas metas ou que não fui a mãe perfeita que eu idealizei… tenho todas as estatísticas no fundo da minha vasta memória, de todas as broncas despropositadas que te dei, de todos os gritos desmedidos e de todos os “nãos” desmerecidos que te entreguei. Tenho tudo armazenado aqui no meu dolorido e, ao mesmo tempo, maravilhoso “HD”.

E sim, lembro-me bem daquela tirolesa que não te deixei ir, daquela que era tão alta que me dava calafrios só de olhar… não permiti que você fosse naquele dia porque eu tive medo e não deixei que você enfrentasse o seu medo como eu (talvez) o enfrentaria se tivesse a sua idade na época. Sim, o medo era nosso e, ao invés de te estimular a vencê-lo, naquele momento eu te encolhi dentro do abraço quente da minha proteção entediante e claustrofóbica. Assim como quando falei tão mal daquela menina ruiva, daquela que tinha mais personalidade que eu, que ia te fazer sofrer cada vez que você se abrisse e mostrasse esse seu coração bom e generoso… eu sei que ela ia te fazer mal, sim ela ia, mas não fez porque eu a ajudei a ir embora da sua vida. E no final, você não teve a oportunidade de se tornar aquele homem cheio de experiências ruins, que te fariam olhar melhor para a mulher certa, quando ela aparecesse…

Ah, meu filho! Se eu fosse escrever esta carta eu te diria tanta coisa… te diria que, a cada dia que passa, sinto mais orgulho da pessoa que você se tornou, e que a medida em que você replica meus atos, você dignifica o meu amor por você, que sempre foi gigante, independente de tantos erros que eu posso ter cometido… diria também que todas as suas atitudes diferentes das minhas do passado, repudiam uma parte de mim que não era tão boa, ou tão adequada para você, e isso me faz igualmente feliz. Saber que você é esse ser pleno de tudo o que há de melhor no mundo, com pitadas de responsabilidade, amor intenso na cor ruiva ou com todas as cores, um pouco de loucura por aventuras em tirolesas e alguns fragmentos de mim, é tudo o que eu preciso para entender que minha vida valeu (muito) à pena!

Então, de novo, se eu fosse te dizer algo, seria: obrigada por todo o amor que você me deu, por tudo que você me ensinou e por ter me tornado a pessoa que hoje escreve essa carta, com o coração cheio de amor e a mente cheia de recordações maravilhosas.

Fui! (Admirar a maravilha que é a sua vida…)

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