Já pensaram em quantos casais que simplesmente não se suportam foram obrigados a dividir o mesmo teto por ininterruptas 24 horas, dia após dia, com chuva ou sol do lado de fora das suas janelas, aguentando TPM e mau humor, gases e procrastinação das intermináveis tarefas domésticas?
Este é o provável cenário de muitos casais que não estavam preparados para enfrentar um isolamento social, “juntos”. Isto porque muitos aguentam seus parceiros às custas de saídas com amigos, casos extra-conjugais, terapias intensivas, horas em shopping ou academias, ou todas as alternativas descritas. São os mais novos reféns do “casamento por obrigação”, aquele pelo qual não te obrigam a casar, mas tem mantém preso à ele até que a conta bancária cresça o suficiente para ser compartilhada ou que um fato muito importante aconteça como divisor de águas profundas, como por exemplo, um amor irresistível e avassalador.
A vida parece mais leve quando os problemas que aparentemente não têm solução são camuflados com doses homeopáticas de almoços regulares com familiares igualmente cansativos, mas essenciais para ditar a norma que faz o trem deslizar por seus trilhos. E assim, sem mais nem menos, aparece uma avalanche de emoções chamada “pandemia” onde os antigos affairs são obrigados a dividir novamente o mesmo espelho do banheiro da suíte, mas agora com a luz acessa e todas as rugas e calvícies expostas em alto e bom zoom.
Para quem tem filhos o drama ainda pode piorar, pois o mínimo isolamento que seria possível dentro de umas poucas paredes desaparece no mesmo instante em que o pedido de comida, estudo, cuidado, brincadeira ou obrigação soam como uma sirene de fábrica, obrigando os bons funcionários a ocuparem seus postos, lado a lado, com hora marcada para o lazer fortuito. E o lazer? É o momento em que ambos se encolhem no canto do sofá, buscando entretenimento nas redes sociais, rindo do caso bobo que nem tem tanta graça assim, mas que é o que diverte quando pensam que depois das notícias tristes sobre o vírus ainda terão que encarar horas na cama, ao lado de quem já não desperta vontade alguma de bagunçar o leito sagrado, que mais se parece com um mausoléu do inferno, um bem frio e seco, sem carícias e sem vontade.
Aguardam ambos a hora de sair de casa, cada um para a sua vida secreta, onde experimentam fantasias e vivem a realidade que lhes é possível, sem lamentos e sem obrigações ensejadas. E eis que é chegado o momento de dirimir as dúvidas que restaram e abdicar do conforto do lar ceifado de amor e carinho.
Agora, a Coronavírus abre as portas para uma nova vida à parcela de mal-casados que passou sua quarentena quase sem respirar também, onde lhe faltaram as doses necessárias para seu corpo funcionar como deveria. E os novos solteiros aprenderam em sua clausura a lutar para chegarem ao grupo de risco com um sorriso no rosto e muitos anos felizes catalogados em sua história de vida…
By Cris Coelho