Por Marianna Roman
Toda mulher parece alguma coisa. Raramente escuto: “esse cara parece…” alguma coisa que não seja sobre um pressuposto, um preconceito, alguma coisa que foi enraizada há tempos partindo de um princípio ilusório sobre controle das ações do outro. É sempre a mesma coisa; ela parece isso, ela parece aquilo, ela precisa disso, ela precisa daquilo… Não se fazem perguntas para saber, mas por mera curiosidade porque a resposta já está pronta na cabeça. É só mesmo pelo assunto não pela importância em si.
E é um tanto triste quando nós, mulheres, abandonamos nisso. Certa vez, entrei num bar – olha ele aí de novo! – e na mesa ao lado da minha havia um grupo de mulheres conversando sobre uma despedida de solteira e sobre como seria a vida de casada da noiva em questão. A última pessoa a ser consultada sobre o dado assunto foi a noiva. Havia tanta opinião, tanto preconceito, tanta determinação que eu fiquei tonta. Dada hora, a noiva pegou o celular e começou a mexer nele e o assunto continuou como se ela não estivesse ali.
Depois começou um papo sobre a fulana famosa X e a fulana famosa Y, as impressões que davam. Naquele mesmo dia, eu reassisti a um filme que gosto muito: “Um lugar chamado Nothing Hill” e há uma cena que me incomoda muito porque o filme é antigo, mas o comportamento daqueles homens não. Ele data desde que o mundo é mundo e perdura até os dias atuais. Eles se sentem donos de nossos corpos, principalmente, começa assim, e, com o tempo, querem determinar também o que pensamos, comemos, bebemos, sentimos.
A cena do filme, onde, numa mesa de restaurante, homens discutiam o que a fulana parecia me fez pensar quantas vezes eu mesma me permiti a essa situação e a quantas de nós passam por isso todos os dias e praticamente precisa pedir desculpas por serem quem são… Então começam os casos de assédio, estupro, os burburinhos, os abandonos, os relacionamentos abusivos, as fofocas… e a culpa é de quem sofreu porque fez parecer, deu a entender, provocou ou não se deu ao trabalho de provar que o outro estava errado porque simplesmente não precisa provar nada para ninguém.
Esse texto é para você que, como eu e muitas outras, parece algo que não é. Não viva em função do que o outro pensa, fala ou quer. A única que precisa saber disso, ser algo, viver, pensar algo… é você mesma com você. As relações são complementos e também são sobre nós, nos ensinam sobre como lidamos com o outro e como deixamos o que o outro faz nos atinja. No final, nós somos sempre por nós. Nós que nos valemos. Não precisa parecer nada, parecer comum, parecer incomum… Nem se preocupar com o que parece. As pessoas gostam de sentir que nos possuem, que nos controlam e ditam aquilo que devemos fazer. Assim, acabamos numa sociedade arcaica, misógina e completamente desleal e desigual. Em especial, com as mulheres. Se tiver que parecer algo que não é ou viver para provar isso, saia, se mude, se afaste.
Às vezes, mesmo sem perceber, nos condicionamos aos outros, ao outro, a um pensamento que não é nosso, a relações que não são para nós, a coisas que não nos pertencem. E quanto mais tomamos rédeas da nossa própria vida, mais essas situações aparecem para nos lembrar que o caminho que nós tomamos é o que deve ser tomado, porque o que é nosso é nosso. Nós temos que ser nós, por nós, para nós. A linha entre um conselho, uma voz que precisa ser escutada e um comando para nos condicionar é tênue, mas basta lembrarmos de quem somos e quem devemos ser… que aprendemos a diferença.
Matéria de Marianna Roman para a coluna Empoderamento Feminino
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