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Pelo direito de estar cansada!


Já viram que todos os posts que exaltam a velhice mostram velhos ativos, dançando, superando limites físicos e ousados? Entendo como um estímulo para que a gente não se deixe levar pelas limitações físicas da idade e se desafie, se impulsione. Mas temo que isto crie um novo estereótipo para a velhice, uma espécie de “super-velho”, que de maneira nenhuma não nos representa.


A passagem dos anos cobra um preço. Aliás, tudo cobra seu preço... A velhice traz muita coisa boa, mas também traz um desgaste natural das articulações e dos músculos. Algumas pessoas sofrem com o desgaste de algum órgão, ou questões de saúde física mais severas, sem falar nos desgastes emocionais de tantas batalhas que travamos. Tem uma hora em que a gente quer sossego!


Em todas as idades, nós precisamos de pausas. Para nos recuperarmos das demandas rotineiras que acabam se tornando excessivas. O perigo do discurso de “super-velhos” é transformar esta necessidade de pausas em uma demonstração de fraqueza, nos forçando a superarmos obstáculos para além do nosso limite. Temos que cuidar para que nossa narrativa da potência e capacidade da velhice não caia em armadilhas.


Alguns amigos maduros se sentem incomodados quando alguém demonstra educação e oferece lugar no transporte público, ou oferece ajuda para atravessar a rua, por exemplo. Encaro apenas como um reconhecimento de que a idade pode trazer limitações. Muito diferente foi o movimento que ocorreu em 2021, quando a OMS cogitou classificar a velhice como doença. Isso sim é uma associação perversa e irreal, que traz embutido um preconceito etarista. O termo aprovado foi “envelhecimento associado a declínio na capacidade intrínseca”, que acrescenta uma condicionante que corresponde de forma mais clara a uma consequência real do processo de envelhecer.

Eu entendo a velhice saudável como um ponto de equilíbrio entre as nossas necessidades e capacidades frente às inevitáveis perdas do passar dos anos. Um ponto importante, a meu ver, é não negar estas perdas, mas encará-las para melhor lidar com elas. E, sim, exaltar as conquistas, exibir suas superações e o resultado do cuidado com o corpo e a mente com orgulho nas redes sociais, claro! Porque somos nós que sabemos “onde nos apertam os calos”, para usar uma expressão antiga e tão certa. A mensagem de motivação dos velhos ativos é aquela clássica: não se deixe abater pelas dificuldades. Mas elas existem, não temos que ignorá-las, e tudo bem se a gente não consegue rebolar até o chão como a velhinha do vídeo viral. Tudo bem se a gente acordar sem forças para ir ao treino, e ficar na cama dormindo mais. Tudo bem se a gente distendeu a coluna porque carregou compra de supermercado. E tudo bem se a gente aceitar o lugar no ônibus, porque o joelho dói inexplicavelmente quando você fica em pé. Isso não minimiza em nada nossas conquistas, que são vitórias na batalha diária da vida.


Ana Lúcia Leitão para a coluna 50+

Encontre-a no Instagram: @aninhaleitao2


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