O que dizer do passado? Que todos temos um, que está ao nosso alcance sempre que queremos tocá-lo e que é fundamental para seguirmos com nossas convicções, nossos medos e nossos sonhos?
O passado está lá, guardando nossos melhores e piores momentos para que possamos buscar outros. Ele nos reserva o direito de aumentar ou diminuir as circunstâncias de acordo com o sentimento que nos guia; com nossa percepção falível e com a certeza de que tudo está documentado em algum lugar deste nosso passado, em uma biblioteca gigante que nos será revelada quando finalmente partirmos deste mundo.
Ali, diante de todas as histórias que construímos, desvendaremos os mistérios da nossa vida e descobriremos que eles guardam apenas os pequenos grandes momentos dela: aqueles em que tocamos um pouquinho do infinito amor que recebemos durante a nossa caminhada. Eles são os momentos que formaram as bases das nossas crenças, que construíram os alicerces que nos sustentaram durante toda a nossa existência e que nos trouxeram até aqui.
E quando busco por eles, vislumbro o presunto suculento que acabava de sair do forno, feito pela Rosinha, na cozinha azul do meu passado; vejo minha avó apreciando minhas unhas recém-pintadas de vermelho, escuto as músicas da Marina ao lado da minha Dinda, no último quarto que habitou.
"Ali, diante de todas as histórias que construímos, desvendaremos os mistérios da nossa vida."
De repente, estou na sala da minha prima fazendo polichinelo com ela em um ritual bobo e sem sentido, e sinto o gosto do mate caseiro da sua casa, sempre delicioso. Ando mais um pouco e sinto o abraço apertado da minha mãe preta em todas as vezes em que ia visitá-la e, quase sem querer, escuto o barulho dos carros de Fórmula 1 na televisão do meu pai em um dia de domingo. Mordo um pedaço enorme do sanduíche do meu irmão, que ele não queria dividir e que, por essa razão, torna-se mais delicioso ainda! (risos)
Passeio pelo enorme apartamento da minha infância e vejo minha mãe fumando seu cigarro. Paro ao seu lado e respiro um pouco da nicotina do seu mundo enquanto aprecio suas formas suaves caminharem pelo chão quadriculado da sala.
Vou até o quarto dos meus filhos e os vejo enrolados em suas mantas, dormindo no mesmo berço. Eu os levo até nossa casa e os vejo pulando na cama elástica junto com sua irmã menor.
"A vida é um mosaico de momentos, misturados entre lembranças, sentimentos e percepções."
Olho para ela e a vejo correndo atrás de uma bola com seus cachinhos dourados brilhando no sol. Seguro meu chapéu e percebo meu marido ali, ao meu lado. Ele não fala nada, só sorri.
E entendo, finalmente, que a vida é um mosaico de momentos, misturados entre lembranças, sentimentos e percepções. Entendo sua magnitude quando descubro, nas entrelinhas do meu passado, os pequenos grandes momentos que compõem a poesia da minha jornada.
Sigo em frente carregando um pouco de todos os meus momentos e agradecendo por cada um deles fazer parte do que sou hoje.
Fui! (Vivê-los infinitamente.)
Matéria de Cris Coelho para a coluna Aquela que habita em mim
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