No mundo corporativo, com a pressão por desempenho, resultados e eficiência ditando o ritmo, a ideia de ser vulnerável pode parecer um risco à carreira. Afinal, vulnerabilidade no passado era quase um “suicídio profissional”, sendo frequentemente associada a fraqueza e falta de confiança. No entanto, se permitir ser vulnerável no ambiente de trabalho pode ser uma estratégia poderosa para o crescimento pessoal e profissional.
Vamos começar combatendo pré-conceitos aqui: a vulnerabilidade não representa demonstração de fraqueza, mas sim, de autenticidade e honestidade com você mesmo e com os outros. É a coragem de admitir que não se sabe tudo, que se comete erros e que se tem dúvidas. Mais do que isso: é reconhecer que todos nós estamos neste lugar de aprendizagem e crescimento.
Quando a gente se permite ser vulnerável, está mostrando a sua verdadeira essência, o que pode criar conexões mais profundas e relacionamentos mais autênticos com os colegas. Isso pode melhorar a comunicação, a confiança e a colaboração no ambiente de trabalho.
Quando a gente admite não saber algo ou comete um erro, está criando uma oportunidade para aprender e melhorar, pois é a partir das falhas e dos momentos de incerteza que muitas vezes surgem as maiores lições.
É a coragem de admitir que não se sabe tudo, que se comete erros e que se tem dúvidas. Mais do que isso: é reconhecer que todos nós estamos neste lugar de aprendizagem e crescimento.
Portanto, a vulnerabilidade possibilita que as pessoas se sintam à vontade para compartilhar ideias e soluções diferentes. Se elas não se sentem pressionadas a estar sempre certas, então, não se sentirão diminuídas ou envergonhadas quando não estiverem. Este é o ambiente mais propício a soluções criativas. Quando as pessoas se sentem obrigadas a ter todas as respostas, a inovação acaba sendo sufocada.
A liderança tem grande responsabilidade quando se trata deste tema, pois lhe cabe o papel de impulsionar a construção deste ambiente em que as pessoas se sintam seguras a “baixar a guarda”. E a melhor forma de fazer isso é sempre pelo exemplo: também se permitindo ser vulnerável. É preciso largar mão do papel de super-herói, sabedor de todas as coisas, dono do “olho de Thundera com visão além do alcance”. Líderes são pessoas.
Líderes que se permitem ser vulneráveis se tornam mais acessíveis e respeitados por suas equipes, porque demonstram que estão dispostos a ouvir, aprender e crescer junto com a equipe, criando um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo.
Não estou dizendo que essa transição é simples. A teoria tradicional de liderança é cheia de “verdades” como “líder fraco, time fraco”, “os grandes líderes eram fortes”, “a liderança é uma posição solitária”, entre outras, causando a confusão sobre esse papel vulnerável, tanto para o líder quanto para os liderados. Mas volto a repetir: vulnerabilidade não está relacionada à fraqueza. Na verdade, a vulnerabilidade fortalece. O líder pode ser firme nas decisões, mas também aberto a aprender, ouvir e entender as perspectivas de todos. A força e a vulnerabilidade são características complementares, que juntas criam líderes autênticos e eficazes.
A pesquisadora americana Brené Brown, em seu livro ‘A coragem de ser imperfeito’, usa a expressão estar por inteiro na arena, em referência a um discurso conhecido de Theodore Roosevelt, para explorar como a vulnerabilidade é fundamental para nossa capacidade de viver uma vida autêntica e plena. A autora reforça que a plenitude está na coragem de se jogar na arena, mesmo que muitas vezes sinta o rosto esfregando na areia. O que não podemos é deixar de nos lançar na arena por medo de falhar. Aceitar a vulnerabilidade nos fortalece a buscar nosso máximo potencial, mesmo com risco de cair de cara na arena.
Ao ser vulnerável, um líder reconhece que não tem todas as respostas e isso o incentiva a buscar constantemente o aprendizado e a melhoria pessoal. Um líder forte e vulnerável é capaz de inspirar, motivar, ouvir, aprender e adaptar-se às mudanças, e isso contribui para a construção de relacionamentos de confiança e respeito duradouros com sua equipe.
Por fim, lembrando que acabamos de sair de setembro, mês dedicado ao debate sobre saúde mental, é importante reforçar que ocultar vulnerabilidades e emoções no trabalho pode levar ao estresse e à ansiedade de projetar a imagem ideal o tempo todo. Quando a gente se permite ser vulnerável, está se liberando da pressão de parecer sempre "perfeita" e pode encontrar maneiras mais saudáveis de manter o bem-estar emocional.
“Complicada e perfeitinha” são combinações que só cabem na música.
Érica Saião para a coluna Mulher & Carreira
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