A visibilidade e valorização do tema Diversidade, Equidade e Inclusão, muito
motivada pelos movimentos e cobranças do ESG, tem estimulado o surgimento
de novas ações. Há alguns anos já percebemos o aumento da participação
positiva de executivos e executivas do mundo corporativo se posicionando a
favor do desenvolvimento de culturas mais inclusivas nas organizações onde
estão. Para virar uma convicção nas empresas esse tema ainda tem uma
jornada longa a alcançar para que a inclusão seja um tema mais recorrente nas
ações, além dos discursos.
Seja qual for a intenção – por conveniência ou convicção o importante mesmo
é ter atitude para começar. Sem atitude entendemos como apenas
simpatizantes, pessoas que querem ser aliadas. A atitude é o que tem mais
valor, é o que faz a transformação acontecer.
A primeira atitude para se posicionar como uma pessoa aliada da inclusão é
humildade para assumir que está em desconstrução e aberto ao
desenvolvimento. Assumir essa desconstrução não justifica nossas falhas. Não
podemos nos acomodar no erro. Os erros servem para provocar mudanças de
comportamento e muita aprendizagem.
A segunda é entender a interseccionalidade. Assim, fica mais fácil entender
que não é possível se posicionar como pessoa justa e inclusiva se levantamos
apenas uma das bandeiras de grupos minorizados. É ter consciência de que
levantar uma bandeira é levantar todas. É interseccionalizar a opressão e
considerar as necessidades de todas e todos como caminho para o começo e a
continuidade na jornada de inclusão.
A terceira atitude é reconhecer a nossa condição de privilegiadas e
privilegiados, o que não anula nossos esforços, mas nos ajuda a entender que
com os mesmos esforços ainda há pessoas que tiveram menos oportunidades.
Quanto privilegiados precisamos usar nosso poder de influência para alcançar
mais pessoas aliadas e abrir mais oportunidades para aquelas que são
excluídas.
A quarta atitude é saber a diferença entre ser uma pessoa aliada e ser uma
pessoa simpatizante da inclusão. Essa última fica de fora, de longe, às vezes
até aplaude e elogia pessoas de grupos minorizados por suas histórias,
coragem etc., mas não se envolve e assim não mobiliza pessoas, não ajuda de
fato. Para mobilizar, a pessoa aliada precisa entender e valorizar o que tem
sido feito para contribuir com o aumento da conscientização sobre inclusão.
Seguir pessoas desses grupos nas redes sociais, que trazem pautas
importantes, é um bom caminho para entender os efeitos das opressões e nos
ajudam a questionar nossa forma de agir. Também é importante compartilhar
conteúdos divulgados por essas pessoas nas nossas redes, no ambiente de
trabalho, na família e onde mais estivermos presentes. Dividir com a sociedade
o que estamos aprendendo e nos levando a uma desconstrução.
A quinta atitude de pessoas aliadas da inclusão é incomodar-se com as
injustiças. Sentir-se verdadeiramente desconfortável com as piadas, as
‘brincadeiras’ que ofendem, agridem e excluem qualquer pessoa por sua raça,
credo, caraterísticas etc.
A sexta atitude é consequência desse incômodo: a reação a esses
comportamentos. Não basta apenas nos incomodar. É necessário gerar a
reação que permita nos posicionarmos contra as atitudes que fortalecem o
capacitismo, machismo, racismo, homofobia e todas as outras opressões.
Todas essas formas de discriminação que nunca estão sozinhas. Sempre tem
alguém para rir, achar engraçado, concordar ou dar continuar à exclusão. Não
tem graça. Nunca teve. Precisam ser apontadas e desconstruídas.
Mesmo sob o risco de ganhar o rótulo de ‘a pessoa chata da inclusão’ – que
pode inibir muitas vezes nossas reações – as pessoas que se apresentam
como aliados da inclusão precisam, ainda assim, fazer apontamentos para
desconstruir esses comportamentos. Porque inclusão não é sobre dividir. É
sobre somar e quanto mais aliados, mais naturalmente a ela vai acontecer.
Uma pessoa aliada entende sua importância como agente da humanização das
atitudes para a transformação.
Carolina Ignarra para a coluna Corpos Sem Filtro
Carolina é CEO da Talento Incluir
Encontre-a no Instagram:@carolinaignarra